A coluna de hoje vai contar a aventura de seis amigos em viagem ao Chile no ano de 2015, quando rolava naquele país, em pleno inverno severo do mês de junho, os jogos da Copa América. Muitos do grupo já incursionavam pela Copa do Mundo desde o ano de 1986. A Copa América havia sido incluída no roteiro mais recentemente, a partir do ano de 2011, quando realizada na Argentina. Como de praxe, o grupo se programa para assistir os jogos somente da primeira fase, período que não ultrapassa dez dias.
As Copas(do Mundo e América) são também uma rara oportunidade de conhecer lugares e pessoas diferentes e principalmente praticar o companheirismo. É claro que nessas viagens os micos são inevitáveis, mas especificamente essa de Santiago do Chile foi sui generis. A coisa começou errado logo no check in em Cumbica. Um dos amigos esqueceu a blusa no balcão da TAM que acabou sendo entregue posteriormente em Santiago. O segundo mico se deu no trajeto entre Cumbica e Santiago, no dia 13 de junho, véspera do primeiro jogo do Brasil.
O comandante do voo da TAM recomendou aos passageiros para que atrasassem o relógio em uma hora que era a diferença de fuso entre os dois países em decorrência do horário de verão. A chegada na capital chilena foi por volta das 13h30 e às 16h30 sairia o voo da conexão para Temuco, porta de entrada da Patagônia e próxima do vulcão Vilarrica que havia entrada em erupção no começo de março daquele ano desabrigando mais de três mil pessoas nas suas proximidades e cobrindo de cinzas vasta região do Chile e Argentina, onde o Brasil realizaria o primeiro jogo enfrentando o Peru no dia seguinte. Como tínhamos três horas de espera o grupo relaxadamente almoçou e, para passar o tempo ficou jogando conversa fora e tomando vinho.
Trinta minutos antes do horário de embarque o grupo se dirigiu ao portão designado para fazer o embarque e, qual não foi a surpresa ao verificar que a aeronave já estava decolando com todas as bagagens do grupo e, só aí que todos se deram conta que foram traídos pela informação errada do comandante da TAM que havia recomendado atrasar o relógio em uma hora. Com hotel reservado em Temuco, tickets do jogo pagos e sem a bagagem, bateu desespero, como não poderia ser diferente. A pressão foi tamanha junto a gerente da TAM no aeroporto que, não se sabe como, mas todos tiveram a garantia que embarcariam no primeiro voo do dia seguinte, a ponto de chegar em Temuco, antes da hora do almoço. Mas, o mico não parou por ai. Só com a roupa do corpo e um frio de trincar, outro mico estava por vir.
O preço elevado da diária impediu os viajantes de se hospedarem num dos hotéis existentes ao lado do aeroporto – Holiday Inn Santiago. Assim, confiaram num motorista de Van que prometeu acomodar o grupo numa pensão confortável num dos bairros não muito distante do aeroporto, comprometendo-se a fazer o traslado, pensão/aeroporto, às cinco horas da manhã para que o grupo pudesse embarcar a tempo. A dita pensão era na verdade uma pocilga e, não bastasse isso, o grupo foi alojado num porão que mais lembrava um labirinto de casa assombrada. Não havia serviço de cozinha e sequer água quente no chuveiro, onde o banheiro tinha o piso de vermelhão e cortina de plástico. Então, todos tomaram banho tal qual gato, lavando o essencial e mesmo assim batendo o queixo de frio. Lá fora a temperatura não parava de baixar e, com a fome apertando, o jeito foi encher a cara de vinho, pão, salame e jamones, comprados num pequeno supermercado próximo e tentar dormir. Não bastasse isso, as camas lembravam as de campanha usadas em acampamento, com um lençol bem vagabundo e um cobertor não menos ralé para enfrentar uma temperatura próxima a zero.
Ah, em alguns quartos tinha aquecedores elétricos de mil novecentos e bolinha, mas a recomendação era não ligar pelo risco de incêndio. Depois de uma noite sofrível, finalmente, o cara da Van apareceu para pegar o grupo às cinco da manhã e assim todos embarcaram no primeiro voo da TAM, tal como prometido, chegando a Temuco com bastante antecedência para assistir o jogo do Brasil contra o Peru, no dia 14 de junho, sob muita chuva e frio. O Brasil saiu vitorioso 2×1 com gols de Neymar e Douglas Costa. A viagem teve mais micos, mas estes serão revelados na próxima edição.
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