Em 2001, Fredi Jon e o grupo Serenata & Cia estavam ansiosos para a apresentação daquela noite. Haviam sido contratados para uma serenata no interior de São Paulo, em um pequeno vilarejo que parecia retirado de um conto de fadas, com suas ruas de paralelepípedo e luzes de lampiões. A noite prometia ser especial, e Fredi sentia que seria uma daquelas apresentações que ficariam para sempre na memória de quem estivesse presente.
Tudo parecia correr bem até Fredi perceber, já na praça onde seria a serenata, que a letra da música mais importante da noite, um clássico do Barão Vermelho, havia ficado no escritório. O coração disparou, e um frio percorreu sua espinha. Aquele momento era crucial, e ele não podia decepcionar o cliente, que o havia contratado com tanto carinho.
Enquanto tentava descobrir como resolver o problema, Fredi avistou um grupo de meninos brincando de bola ali perto. Decidido a não deixar o imprevisto estragar a noite, ele se aproximou e perguntou:
— Galera, por acaso vocês conhecem aquela música do Barão Vermelho que fala de amor?
Os meninos riram, trocando olhares entre si. Um deles, de cabelos bagunçados e olhar curioso, respondeu:
— Conhecemos, mas a gente não lembra muito bem da letra, não…
Fredi tentou cantarolar alguns trechos, mas os meninos o interrompiam com palavras erradas, misturavam outras músicas, e, por fim, deram de ombros. Derrotado, Fredi Jon agradeceu e voltou ao local da serenata, respirando fundo e tentando pensar em como contornar a situação.
Ajustou o equipamento, afinou o violão e começou a se preparar para o que seria uma noite difícil.
Antes de iniciar, porém, Fredi voltou ao carro para pegar um último item e foi aí que seu coração parou por um segundo. No para-brisa, presa com fita adesiva, estava uma enorme folha de caderno, daquelas de tamanho grande, com a letra completa da música escrita com uma caligrafia infantil. Havia desenhos de bolas, estrelas e notas musicais ao redor, como se os meninos tivessem colocado todo o carinho do mundo naquele simples pedaço de papel.
Ele olhou em volta e viu os garotos escondidos atrás de uma árvore, observando de longe com sorrisos tímidos nos rostos. Fredi sentiu as lágrimas se formarem em seus olhos, mas respirou fundo, segurando a emoção. Pegou a folha com cuidado e ajeitou-a no suporte do violão. Agora ele sabia que aquela seria uma serenata inesquecível.
Quando começou a cantar, cada nota saía carregada de gratidão e emoção. Era um encontro de casais onde cada música da noite foi pensada A música do Barão Vermelho ressoou pela praça como um sussurro de magia, e o público, encantado, sentiu a força daquele momento. Ao final, Fredi Jon não resistiu e, em meio aos aplausos, apontou para os meninos que assistiam de longe:
— Essa serenata é para vocês. Obrigado por salvarem a noite.
Os meninos acenaram, felizes, e Fredi sentiu que, naquela noite, a música havia cumprido seu verdadeiro propósito: unir corações e transformar o ordinário em algo extraordinário.
Texto Fernanda Morena. Outras histórias você encontra no MINUTO Serenata disponível no site: serenataecia.com.br e no YouTube