Vozes da dúvida

A angústia e os ruídos que permeiam a mulher na sociedade contemporânea estão no centro da obra de Júnia Azevedo (@juniaazevedoarte). Seja nos objetos ou nos trabalhos bidimensionais, suas criações despertam estranhamento. Geram um incômodo que percorre as entranhas e faz pensar sobre experiências de solidões e relacionamentos tóxicos.

As imagens foram apresentadas na exposição coletiva Batismo no Ateliê Anna Guerra, em São Paulo, SP.

Não se trata de um falar visual que traga respostas simples ou dogmas, mas de uma criação diversa tecnicamente que apresenta um questionar que reverbera em possibilidades de construção de um discurso plástico que não se oferece como belo fruto a ser devorado, mas como um vivenciar apaixonado da vida, pleno de vivências e experiências.

As imagens propostas destroem paradigmas em que há virgens encerradas em torres a serem salvas por príncipes encantados. Os desejos se fazem presentes em composições que se relacionam com objetos masculinos ou em obras em que os silêncios são criados para obrigar a pensar.

A contemporaneidade está na ruptura com tudo aquilo que pode ser considerado comportado. A temática do ser mulher é tratada com grande liberdade na escolha dos materiais para dar voz a dúvidas e incertezas de um mundo complexo em que a única certeza é não naturalizar a violência de qualquer espécie e não se calar perante ela.

Oscar D’Ambrosio @oscardambrosioinsta
Pós-Doutor e Doutor em Educação, Arte e História da Cultura, Mestre em Artes Visuais, jornalista, graduado em Letras, crítico de arte e curador.