Caixas de salvação

Caixas podem funcionar como máquinas vivenciais. Tanto guardam segredos como energia indispensável para prosseguir na jornada existencial. As obras tridimensionais de Laura Martinez (@lauolimares), assim como as fotografias, apresentam, portanto, luz em meio às sombras.

 
As imagens foram apresentadas na exposição coletiva Batismo no Ateliê Anna Guerra, em São Paulo, SP.

Se o ser humano está no fundo da caverna, as caixas podem trazê-lo de volta. As criações da artista libertam os pensamentos como se fossem borboletas imaginativas.  Puxar caixas com o rosto coberto constitui, assim, uma metáfora de maneiras de se movimentar para tentar sair de um casulo psicológico, embora se esteja preso a ele.

As caixas têm algo de tristeza, mas, acima de tudo, apresentam potencialidades. Quebrá-las é um passo necessário na procura de respostas. Não são só um deserto, mas também um oásis, um refúgio para ganhar forças. Podem funcionar como aquela água que mata a sede, mas que indica que será permanentemente necessária para a subsistência.

Estar dentro da caixa, de alguma maneira, é tão necessário como permanecer fora dela. Ela protege e sufoca simultaneamente, em um processo poético e simbólico. Mergulhar nele é, como aponta o escritor Tavinho Paes, navegar para o mundo dos mortos sem perder o prazer de contemplar as paisagens das margens.

Oscar D’Ambrosio @oscardambrosioinsta
Pós-Doutor e Doutor em Educação, Arte e História da Cultura, Mestre em Artes Visuais, jornalista, graduado em Letras, crítico de arte e curador.