“A simplicidade é o último grau de sofisticação”, dizia Leonardo da Vinci. Esse pensamento do inventor, arquiteto e artista plástico italiano se aplica muito bem à vida e à obra do pintor acreano Hélio Holanda Melo, que assina seus quadros como Hélio Melo. Em sua jornada, caracterizada pelo uso de tinta de extrato de folhas sobre papel cartão ou em tela, retratou, de maneira diferenciada, o universo da extração da borracha.
Sua obra teve um significativo aumento de visibilidade em 2006 no momento em que ele ganhou, na 27ª Bienal Internacional de São Paulo, a exibição de parte significativa de seu trabalho. Foi mostrada assim uma poética caracterizada pelo ato de narrar constante sobre o que significa ser amazônida e como esse mundo pode atingir um resultado pictórico altamente significativo não só em termos das imagens propriamente ditas, mas também por aquilo que evocam.
Em linhas gerais, as pinturas mostram seres humanos de diminutas proporções perante um ambiente em que a floresta surge como grande personagem. Dentro dela, homem, animais e árvores ganham características zoomórficas. Estas últimas na forma de vacas, que adquirem uma dimensão sagrada.
As paisagens amazônicas de Melo mostram o homem em meio à floresta. Trata-se, geralmente, de um seringueiro que, além de seus instrumentos de ofício para extrair o látex, porta, quase que invariavelmente um rifle ou facão. Leva, portanto, a proteção contra um dos maiores inimigos do trabalhador na selva: a onça.
Uma tríade muito presente nas pinturas do artista é justamente a do seringueiro armado próximo da árvore e ameaçado pela onça, felino à espera do descuido. Mas os adversários a serem temidos também são de outras naturezas. O maior deles certamente é o homem, visualizado nas motoserras que surgem em algumas telas do artista.
A combinação árvore, homem, jumento e vaca possibilita as mais variadas alternativas – e Hélio Melo se vale delas com muita habilidade. Ora a árvore é o local onde o jumento se localiza, ora integra o corpo da vaca, ora surge como parte de uma santa, ora é a fonte de trabalho e, portanto, de sustento econômico e familiar do homem (seringueiro).
Hélio Melo com seus jumentos sobre árvores, santas e vacas fundidas a troncos e imagens do cotidiano da floresta amazônica é sempre um nome a ser revisitado, com a sua aparente simplicidade plástica plena de sofisticação anunciada por Leonardo.
Oscar D’Ambrosio
@oscardambrosioinsta
Pós-Doutor e Doutor em Educação, Arte e História da Cultura, Mestre em Artes Visuais, jornalista, crítico de arte e curador.