O New York Times publicou recentemente texto com 7 perguntas sobre a meia-idade, na qual inclui a menopausa. Há um filme que rata essa questão sob uma ótica existencial.
Se você já sentiu que a vida não tem sentido algum, principalmente se chegou na faixa dos 40 anos, com a proximidade da menopausa e, muitas vezes, com uma existência afetiva e emocional bem distante daquilo que esperava, veja então “Pause”, da cipriota Tonia Mishiali.
A protagonista Elpida, vivida pela atriz Stella Fyrogeni, está na situação que ninguém gostaria de vivenciar. O marido mal a olha, a sua filha e neta moram distantes e parece haver poucas possibilidades daquela realidade se alterar.
Uma escapatória são as aulas de pintura, nas quais Elpida não demonstra nenhum talento especial. Isso, porém, não a impede de viver um cotidiano em que começa a olhar para o mundo e a fantasiar situações com as pessoas ao seu redor, desde o bruto marido ao sexy pintor de paredes do prédio.
Aquilo que é e o que gostaria de ser começam a se confundir de maneira progressiva na mente da protagonista. A liberdade só pode ocorrer com a saída de casa ou com a morte do companheiro opressor. E todos esses caminhos têm ônus e bônus, ações e reações. Nada é simples perante as consequências físicas e emocionais do envelhecimento para uma mulher em numa sociedade machista e preconceituosa.
Ideal para refletir sobre o posicionamento da mulher atual, o filme mostra como as questões existenciais envolvendo a mulher contemporânea, como o machismo, a opressão, o sexo sem amor e o sem sentido da vida, e as resoluções cotidianas, como pintar o cabelo, divertir-se e simplesmente, aquilo que é mais difícil, ser feliz, caminham lado a lado com o passar do tempo.
“Pause” demanda coragem do espectador da primeira até a última cena. O coração acelera e o corpo se incomoda, pois o dilema de sobreviver da protagonista esbarra no viver de cada um de maneira diferente, mas sempre com profundidade e com a esperançosa percepção de que algo pode ser feito a cada instante para mudar o panorama apresentado.
Oscar D’Ambrosio @oscardambrosioinsta
Pós-Doutor e Doutor em Educação, Arte e História da Cultura, Mestre em Artes Visuais, jornalista, graduado em Letras, crítico de arte e curador.