Tumores cerebrais em crianças e adolescentes são um perigo silencioso

Vale lembrar que a campanha Maio Cinza está em vigência. O objetivo é conscientizar sobre o câncer de cérebro — um tipo raro de tumor, mas de alta agressividade. Conforme o Instituto Nacional de Câncer (Inca), a doença corresponde a cerca de 2% dos casos de câncer no Brasil, com aproximadamente 11 mil novos diagnósticos e 9 mil mortes por ano. Além disso, trata-se do segundo tipo de tumor mais comum em crianças e adolescentes

O neurocirurgião Jamil Farhat Neto (CRM-SP 141.252 e RQE 74.302) comenta que os tumores cerebrais mais comuns na infância e adolescência incluem o meduloblastoma, que afeta o cerebelo, e os gliomas de baixo grau, como o astrocitoma pilocítico. Também são recorrentes os ependimomas, que surgem nos ventrículos cerebrais. O especialista diz que a localização do tumor costuma ter mais impacto nos sintomas do que o tipo celular.

Segundo o médico, embora fatores genéticos possam aumentar o risco — como em síndromes raras como Neurofibromatose tipo 1 e Li-Fraumeni —, a maioria dos casos não possui uma causa identificável. “É como um erro de digitação no processo de multiplicação celular. Infelizmente, pode acontecer mesmo em sistemas perfeitos”, explica. Ele lembra que a exposição à radiação em altas doses e a certos produtos químicos industriais também são estudados, além de não haver relação comprovada com alimentação ou estilo de vida.

Sintomas exigem atenção dos pais
Jamil ressalta que os sinais de alerta variam conforme a localização e o tamanho do tumor. Dores de cabeça persistentes, principalmente pela manhã, vômitos sem explicação, alterações visuais (como visão dupla), problemas de equilíbrio e mudanças no comportamento ou desempenho escolar são sintomas comuns. Em bebês, é preciso observar aumento anormal do crânio e abaulamento da fontanela (moleira). “Se algo no comportamento do seu filho parecer diferente ou persistente, confie no seu instinto e procure um médico”, orienta.

Diagnóstico e tratamento
O diagnóstico costuma começar com um exame neurológico, seguido por exames de imagem como a ressonância magnética. Em alguns casos, é necessária uma biópsia. O tratamento é multidisciplinar e pode envolver cirurgia, radioterapia e quimioterapia, dependendo do tipo e da localização do tumor. “Os avanços em terapias direcionadas e imunoterapia vêm ampliando as opções de tratamento com menos efeitos colaterais”, destaca.

O neurocirurgião Jamil Farhat Neto

Quando a doença é descoberta precocemente, o especialista conta que muitos tumores cerebrais infantis têm altas taxas de cura. Em casos de gliomas de baixo grau, por exemplo, a sobrevida em cinco anos pode ultrapassar 90%. Mesmo em situações mais complexas, os protocolos atuais oferecem resultados promissores.

“Um aspecto importante que observo é a resiliência incrível das crianças, pois elas frequentemente respondem melhor aos tratamentos do que os adultos, com cérebros mais adaptáveis. Como digo às famílias em meu consultório: há muitos motivos para esperança, especialmente com acompanhamento médico regular.”, afirma.

Vida após o tratamento
O pós-tratamento varia de acordo com cada caso. Muitas crianças retornam à vida normal, enquanto outras podem enfrentar desafios cognitivos, motores ou hormonais. O acompanhamento com exames de imagem e suporte multidisciplinar é essencial. “O que mais me impressiona é a capacidade de adaptação dessas crianças, já que elas frequentemente nos ensinam sobre resiliência e alegria de viver. As famílias também se transformam, encontrando força e significado inesperados. O apoio escolar e psicológico faz grande diferença nessa fase”, conclui o médico.