Ta rica mas não entra

O assunto da obra é Chica da Silva, cujo nome completo era Francisca da Silva de Oliveira. Escrava, posteriormente alforriada, viveu no Arraial do Tijuco, que viria a ser Diamantina, que pertencia ao município do Serro, MG, na segunda metade do século XVII.

Chamada de Rainha dos Diamantes, foi uma das mulheres mais ricas do Brasil no período colonial. Porém, embora usasse caríssimas e lindas joias, vestisse roupas luxuosas e até possuísse escravos, pelo fato de sua origem e da sua cor, não lhe era permitido frequentar certas casas de família e mesmo igrejas,

O artista é um dos fundadores, ao lado de Paulo d’Sanctus, do Ateliê Casarão (@ateliecasaraoipiranga), inaugurado em 14 de junho de 2024, no bairro do Ipiranga, em São Paulo, SP.

Tá Rica Mas Não Entra
José Maria Ferreira (@jmf.artista_zemah)

técnica mista – 120 x 120 cm

A pintura alude a isso no seu título. A sua construção visual aponta para alguns aspectos que reforçam as marcas dela ser mulher preta e escrava como limitadores sociais. A imagem mostra o esplendor da personagem; e o fundo simula uma parede descascada, indicando que Chica da Silva era vista como incompleta pela sociedade.

uso do nome da obra e do nome da representada com diversas tipologias traz questões do passado para o presente. O preconceito permanece. As formas de manifestação podem ser diferentes, mas a ideia de que a pele e o passado determinam visões que a sociedade tem das pessoas ainda determina o presente e o futuro de muitas pessoas.

A imagem como um todo traz a personagem histórica do passado para uma linguagem visual contemporânea e aponta que questões que poderiam estar superadas se manifestam hoje com força, embora, de formas mais veladas e de maneiras igualmente deploráveis. 

Oscar D’Ambrosio
@oscardambrosioinsta
Pós-Doutor e Doutor em Educação, Arte e História da Cultura, Mestre em Artes Visuais, jornalista, crítico de arte e curador.