A 69ª edição do Salão de Belas Artes de Piracicaba despertou na sua Comissão Julgadora uma reflexão sobre a própria definição do termo “Belas Artes” e suas nuances de significado em 2024.
O termo se refere às artes plásticas sob uma perspectiva acadêmica, ou seja, dentro de um estilo europeu, forjado nos séculos XVII e XIX, caracterizado pela tentativa de manter com rigor regras formais, estéticas e técnicas ligadas à beleza.
Nesse sentido, foi o francês Charles Batteux, em 1746, o primeiro a usar a denominação de “Belas Artes”, englobando especificamente música, escultura, pintura, dança, poesia, eloquência e arquitetura dentro dessa mesma busca pelo domínio de uma estética figurativa e realista, regida por princípios de composição e uso de cores, tonalidades, luz e sombra.
As Belas Artes são ainda comumente relacionadas a temas históricos, mitológicos e de cunho religioso ou naturezas-mortas. Eram consideradas “superiores” por poderem ser apreciadas através da audição ou da visão, sem a necessidade de estabelecer contato físico direto; enquanto as atividades “menores”, como a perfumaria e a gastronomia, seriam percebidas pelo tato, olfato e paladar.
Se os cursos tradicionais de Belas Artes ofereciam disciplinas que contemplavam desenho, pintura, escultura e arquitetura, a arte contemporânea já procura experiências inovadoras mais pautadas nos processos artísticos do que nos resultados, priorizando muitas vezes as ideias em relação à imagem, de modo que o conceito e a atitude podem estar acima do objeto artístico final.
Para este Salão, às vésperas de contemplar 70 edições, a Comissão não desprezou os conceitos atribuídos historicamente às Belas Artes, mas os colocou em uma nova perspectiva, inclusive escolhendo um grupo de trabalhos que incorpora elementos modernos e contemporâneos, tanto no fazer como no pensar, de modo que, nos próximos anos, seja cada vez mais estimulado um repensar do conceito incluído no nome do evento em suas tradições, em suas manifestações presentes e em seus desdobramentos futuros.
Comissão de Júri
Bruno Portella, Karen Pezolito, Liliana Alves, Oscar D’Ambrosio e Paulo Klein
Oscar D’Ambrosio @oscardambrosioinsta
Pós-Doutor e Doutor em Educação, Arte e História da Cultura, Mestre em Artes Visuais, jornalista, graduado em Letras, crítico de arte e curador.