Trabalhar sobre cédulas cenográficas, ou seja, que não tem valor monetário, permite retomar narrativas de artistas visuais que tomaram esse suporte como forma de expressão. Cildo Meireles é um exemplo histórico disso, assim como, mais recentemente, @paulodusanctus.
A força do trabalho de @paulocibella está nas conotações do verbo “lavar” e na maneira como ele é apresentado. A palavra “dinheiro” surge apagada e “lavar” e “levar” apenas se distanciam por uma letra. Afinal, uma cédula “cenográfica” é uma representação; e o ato de “lavar dinheiro”, também é teatral. De acordo com a Lei nº 9.613 de 1998, a “lavagem de dinheiro” consiste justamente no “ato de ocultar ou dissimular a origem ilícita de bens ou valores que sejam frutos de crimes”. Portanto, a impressão de uma nota falsa com uma inscrição crítica “leva” o ato de “lavar” para uma outra esfera: a da denúncia. Por isso, o apagamento se justifica poeticamente, já que a base da lavagem é exatamente não deixar rastros, o que, felizmente, nem sempre acontece.
Oscar D’Ambrosio
@oscardambrosioinsta
Pós-Doutor e Doutor em Educação, Arte e História da Cultura, Mestre em Artes Visuais, jornalista, crítico de arte e curador.