Os trabalhos de André Cunha desta série são uma promessa da terra. Se, ao se plantar uma semente, não se sabe se ela vai vicejar; a cor do barro, embora essencial no conjunto, não dá certeza em si mesma de que poderá ser uma obra artística potente em termos estéticos e conceituais. O resultado do trabalho vale, portanto, não só pelos objetos criados, mas pela ideia que está a ser discutida no processo e pela execução.
Nesse aspecto, as peças da coleção, sejam isoladamente ou em conjunto, trazem a temática nordestina, como festas populares e cangaço, assim como imagens relacionadas a religiões de matriz africana, como representações visuais de algo ainda mais ancestral e denso: o barro enquanto material essencial na criação do ser humano em diversas culturas.
A sua cor, esteja mais ou menos evidente, de acordo com o trabalho, traz a mesma mensagem: é dele que somos feitos e voltaremos a ser ele de alguma maneira após a morte. O essencial, nesse intervalo entre o nascer e o morrer, está na perseguição de sentidos para a jornada, que surgem do diálogo entre memórias afetivas; capacidade técnica no lidar com materiais, técnicas e suporte; e criatividade e identidade no desenvolvimento e apresentação das peças da coleção.
Oscar D’Ambrosio
@oscardambrosioinsta
Pós-Doutor e Doutor em Educação, Arte e História da Cultura, Mestre em Artes Visuais, jornalista, crítico de arte e curador.