Em idos passados, muitas senhoras, além de cuidar dos filhos e dos afazeres da casa, ainda arrumavam tempo para lavar roupa pra fora como costumava-se dizer à época. Na verdade, elas recolhiam roupas em uma ou mais casas para lavar em casa, devolvendo-as lavadas e passadas dois ou três dias depois.
Com isso, além das obrigações de dona de casa, conseguiam um bom reforço para o orçamento doméstico. Eram muitas na cidade e conhecidas como “lavadeiras”. Seu Chiquinho tinha uma lavanderia e tinturaria no bairro do São Francisco, salvo engano, no início da Rua do Seminário. Com ele, além da esposa e a filha, mais dois funcionários, um só fazendo coleta e entrega, o auxiliavam na arte de lavar, passar e até mesmo tingir e engomar roupas.
Tanto nas residências como nas lavanderias, as roupas eram lavadas no tanque e secavam em varais ao soprar do vento e à luz do sol. Não existiam máquinas de lavar roupas e inúmeras eram as lavanderias e tinturarias na cidade – no mínimo uma em cada bairro.
Hoje não se ouve mais falar das lavadeiras e, as poucas lavanderias existentes, equipadas com sofisticadas máquinas de lavar e secar, decretaram o fim dos tintureiros. Na Galeria de Franchi, bem no centro da cidade, a alfaitaria “Para Todos” do Luiz Baldo, Aleixo Bachi e Oloris Bergamasco, era a maior e uma das mais conceituadas da cidade.
Além dos três sócios, mais quatro outros profissionais entre oficiais e aprendizes dedicavam-se à arte de confeccionar calças, blazers e ternos para atender uma vasta e exigente clientela. Os tecidos, todos importados, poderiam ser escolhidos e adquiridos na própria alfaiataria. Só no centro existiam outras três ou quatro, além de tantas outras em bairros, muitas delas funcionando nas próprias residências dos alfaiates. Vestir linho 120 e tropical Inglês era estar na última moda. Hoje, os poucos alfaiates que restaram sobrevivem fazendo pequenos consertos. Costureiras, verdadeiras artesãs de lindos e criativos feitios, inclusive vestidos de noivas, faziam de suas casas verdadeiros ateliês.
A procura e as encomendas eram tantas que, atrasos na entrega eram normais, para descontentamento e resignação das clientes que ansiavam em ter um vestido novo para uma festa ou evento qualquer. Hoje são raras e as poucas que ainda existem no ofício atendem o que remanesceu das clientes tradicionais, e a tendência é desparecer a profissão.
Os sapatos, após muito tempo de uso, tinham uma sobrevida com a colocação de meia sola, trabalho que era confiado à habilidade dos sapateiros, que também produziam, sob medida, sapatos e botinas reforçadas para o trabalho pesado, também conhecidas como sapatões. Uma ou outra sapataria ia além de consertar sapatos, pois confeccionavam cintos e até mesmo bolsas de couro.
Eram muitas as sapatarias na cidade, mais de duas dezenas; hoje cabem nos dedos de uma mão, se muito, as que remanesceram. Praça da República, Ponto de taxi na esquina da Rua Rio de Janeiro com a Rua Brasil(em frente a estação da EFA), Parque das Américas(onde hoje está Paço Municipal) e Rua XV de Novembro esquina com Rua Paraná, eram os pontos principais dos engraxates da cidade.
Muitos meninos da época, hoje profissionais bem sucedidos, ajudavam o orçamento doméstico com as férias obtidas engraxando sapatos na rua. O professor e excepcional músico Maghetas e este próprio colunista exerceram com muita dignidade este ofício. Carroças garantiam a entrega, deixando na soleira da porta o pão fresco e a pequena garrafa bojuda com tampa de rosca, com um litro de leite in natura(às vezes batizado com água).
Eram os padeiros de rua e os tradicionais leiteiros que chegavam antes do nascer do sol. Pouco mais tarde, os verdureiros passavam na rua conduzindo seus carrinhos de mão ou carroças oferecendo verduras, legumes e hortaliças recém colhidas em grandes hortas existentes na periferia ou nos arredores da cidade, sem o uso de qualquer agrotóxico – era água de mina e esterco de equinos. Uma das maiores ficava na Rua São Paulo, abaixo da linha do trem(em frente os armazéns). (continua na edição posterior)