Professora Apparecida Benites Manzano Menegão

No final do ano de 2010, trazida pelas mãos do Sr. Antonio Menegão, esposo da professora Apparecida Benites, foi-me entregue uma folha de caderno brochura amarelada pelo tempo, com uma letra que de pronto reconheci como sendo da minha infância. Na verdade, tratava-se de uma “Composição”, abordando o tema “Importância e necessidade do reflorestamento” por mim escrita em 20 de setembro de 1960, quando então cursava o 3º ano “B” masculino no antigo Grupo Escolar de São Francisco, que funcionava na Rua Natal, onde atualmente é a Secretaria da Assistência Social da Prefeitura. A reprodução do original da “Composição” foi publicada no dia 22 de setembro de 2011, no Jornal “O Regional” e acha-se também estampada nas págs. 13/14 do meu livro “Pessoas de Estória e História de Pessoas”.

Como esta “Composição”, seguramente muitas outras foram guardadas pela professora e, depois de muitos anos entregue aos seus autores, constituindo-se num presente de valor imaterial inestimável. Como diz a frase de autor desconhecido: – “O destino une e separa as pessoas, mas nenhuma força é tão grande para fazer esquecer pessoas que, por algum motivo, um dia nos fizeram felizes”. Esse gesto que só as pessoas nobres são capazes de fazer, marca a generosidade e a grandeza dessa incansável alfabetizadora que dedicou a sua vida a lapidar o caráter e a personalidade de milhares de crianças que tiveram o privilégio de serem seus educandos, como foi o meu caso.

A página de caderno tal como foi cuidadosamente guardada pela professora por meio século, foi emoldurada e, em destaque adorna a sala de reuniões/biblioteca do meu escritório. Volta e meia me pego lendo o seu conteúdo e não me canso de observar o vocabulário empregado, mas também os erros de ortografia, próprios de uma criança de 10 anos de idade. Na época, o sistema educacional, é bem verdade, era outro e ser professor era o sonho de muitos, principalmente das mulheres que se espelhavam nos professores para escolher a carreira e a oportunidade de realização pessoal.

Professor era reconhecido e respeitado e, ai daquela criança que ousasse não se comportar na sala de aula! Assim, a sua carreira foi influenciada pelos pais, José Benites Manzano e Guadalupe Peres, ambos espanhóis da gema, ele de Granada e ela de Albería/Sevilha, que trocaram a desventura e a fome da Europa no final do século XIX para construir a vida no Brasil.

Do convés do navio e após passar pela imigração, vieram direto para a cidade de Ribeirão Preto, onde se conheceram e se casaram, aportando em Catanduva em 1917. Nona filha de uma prole de dez, desde cedo foi incentivada pelo pai que era guarda-livros a realizar o sonho de se tornar professora.

Concluiu o curso normal em 1946, no Colégio Adhemar de Barros e, em 1947 já era substituta, sendo efetivada em 1950, numa escola rural, vindo a se aposentar em 1978. Lembra que os alunos peraltas e os mais aplicados, indelevelmente, ficaram gravados em sua memória.

Os peraltas, pelas muitas traquinagens e o comportamento sempre frêmito e estrépito e, os mais aplicados, sobretudo, pelos cadernos impecáveis, pelos textos que produziam nas composições e redações e, mesmo pelas notas altas de avaliação que os faziam diferenciados e marcantes.

Porém, diferenciada e marcante mesmo é a professora que, diligentemente ao longo de sua carreira, sempre teve o cuidado de guardar peças produzidas por seus alunos para, depois de muitos anos, entregar a eles como um verdadeiro troféu, fazendo-os se emocionar e reviver momentos inesquecíveis e memoráveis da infância.

Extraída do filme O Club do Imperador – St.Benedict´s College, a mensagem a seguir, diz muito bem sobre a importância dos professores: “… Um grande professor tem pouca história para registrar. Sua vida se prolonga em outras vidas.

Homens e mulheres assim são pilares na estrutura de nossas escolas, mais essenciais que seus tijolos ou vigas e continuarão a ser centelhas e revelações em nossa vida.” O seu aniversário de 90 anos, comemorado ontem (sábado) cercada dos familiares e amigos não poderia passar despercebido.

Então, que este seja o feliz primeiro dia de muitos outros que se iniciam hoje. Que DEUS lhe dê: Força para enfrentar as adversidades; paciência para tolerar os intolerantes; equilíbrio para decidir e resolver tudo com bom senso; saúde para viver feliz; amizades, porque sem amigos a vida é desprovida de sentido. E por final, agradeça a Deus pelo fato da senhora ser um ser humano especial(desculpe o pleonasmo!). Parabéns!