Ao nomear a sua série como Antropoceno (2017 a 2022), a artista visual Adriana Drummond remete a um termo que provém do grego. “Anthropos” significa “humano”; e “kainos”, “novo”. Essa denominação, popularizada em 2000 pelo químico holandês Paul Crutzen, vencedor do Prêmio Nobel de Química em 1995, designa uma nova época geológica caracterizada pelo impacto do homem na Terra.
As características desse momento contemporâneo estariam associadas com o aquecimento global, a extinção das espécies e a redução da biodiversidade, além da perda de fertilidade dos solos, numa situação de crise hídrica que poderia ser prenúncio de um colapso ambiental e social.
A coleção da artista não trata disso diretamente, mas oferece uma visão peculiar, plena de significados, do mundo em que habitamos e que nos cerca. Em termos de assunto, o ser humano e a natureza são um eixo primordial. As linhas têm movimento e pássaros se fazem presentes como a alegorizar desejos e buscas. Nesse aspecto, surge um fazer que une intuição e apuro técnico.
Coração e intelecto caminham juntos em um percurso pictórico que valorizas cores e formas da natureza. Algumas das obras foram realizadas no período pandêmico e estimulam aprofundar uma reflexão sobre o próprio sentido da arte, seja ela dionisíaca, com cores mais quentes, ou apolínea, com tons mais rebaixados.
O essencial está em pensar cada indivíduo, a sociedade, a arte e o universo na perspectiva antropocêntrica. Não se trata de adotar uma postura messiânica de salvação pelo fazer criativo, mas de gerar, com expressividade, por meio da tinta a óleo, imagens que exaltam a vida e mostram como o ser humano poderia de fato construir um mundo melhor.
Oscar D'Ambrosio - @oscardambrosioinsta
Pós-Doutor e Doutor em Educação, Arte e História da Cultura, Mestre em Artes Visuais, jornalista, crítico de arte e curador.