País do futuro, até quando?

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Ainda criança e de calça curtas, como se costumava dizer, ouvíamos a quatro cantos que o Brasil seria o país do futuro, sobretudo, pelas suas riquezas naturais, povo jovem, vastíssima área agricultável(um das maiores do mundo) e abundância de água.

Ah, e os cronistas esportivos mais ufanistas, em suas narrações destacavam que aqui se praticava o melhor futebol do mundo. Seguramente milhões de crianças daquela época foram levadas a acreditar nisso tudo e, em tantas outras bobagens brotadas do excesso de otimismo, zero de fundamento e nenhum sentido pragmático.

Nessas últimas décadas, o país evolui, é bem verdade, mas ficou na rabeira do desenvolvimento quando comparado com outros países que se encontravam num estágio muito inferior. Coréia do Sul, Cingapura, Costa Rica, Chile, Taiwan, etc. Nossas riquezas naturais estão sendo exploradas deixando para trás um passivo ambiental de proporções alarmantes que compromete seriamente o futuro daqueles que nos sucederão.

Retirar o minério destruindo nossas montanhas legando barragens de detritos de segurança duvidosa, para vender o aço a preço de banana para a China, assim como tantos outros minérios, vai deixar uma fatura em aberto que um dia a natureza vai cobrar o seu resgate. O potencial da juventude da nossa gente, foi outra oportunidade perdida.

Não fizemos o dever de casa educando essa gente e o resultado é que ainda hoje, segundo o IBGE, em 2015 eram 13 milhões de pessoas analfabetas com idade superior a 15 anos, sem considerar o número assustador de analfabetos funcionais que deve ser de duas vezes esse número. É preciso lembrar, só para comparar que, Chile e Argentina, dois dos nossos vizinhos muito próximos registram índice zero de analfabetismo há muitas décadas.

Ademais, nossa população está envelhecendo rapidamente. Se 12% da nossa população atualmente é constituída de idosos, esse percentual tende a dobrar antes do ano 2050, segundo previsões do próprio governo. Isso é um dado preocupante, não só para a Previdência Social, como também para a economia do país.

Na agricultura, até que o país vai bem, porém, o grande erro é vender o produto in natura para o comprador no exterior processá-lo e agregar valores. Assim é com o milho, soja e café. Este último traz um fato sui generis. A saca de café é vendida para Itália ou Suíça por um valor em torno de US$1.790,00 à tonelada, ou seja, US$107,00 dólares à saca de 60 kg.

Esse mesmo café retorna ao país em forma de cápsulas por sessenta vezes esse valor. Você não leu errado não? É sessenta vezes mesmo! Quantas décadas vamos precisar ainda para ver cair a ficha e descobrirmos que o café poderia ser processado aqui e, quem quisesse comprar café verde, teria que levar uma quota significativa de café processado.

A COCAM só vende café processado desde que foi fundada no ano de 1960 e, é um exemplo de sucesso industrial, não só da nossa cidade, mas do país. Com a soja, o milho e demais grãos deveria ser igual. Quem quiser comprar in natura terá que comprar parte do produto industrializado e pronto. Outra riqueza que Deus nos deu e nossa incompetência está colocando em risco é a água.

Pasmem! Na década de setenta o governo tinha um programa de incentivo para drenar e acabar com os banhados e as áreas de várzeas que se chamava “Pro-Várzea”. Quanta estupidez!!! Na época o governo dava dinheiro a preço de banana para o agricultor acabar com a várzea, a mesma várzea que hoje é sabiamente protegida por lei, sobre o manto da chamada APP-Área de preservação permanente. Também o povo não se preocupou em proteger os rios, minas e nascentes.

No estado de São Paulo são centenas de milhares de nascentes que deixaram de existir diante da irresponsabilidade e voracidade dos plantadores de cana-de-açúcar e outras culturas. Ou seja, nossas minas foram aterradas e substituídas por moitas de cana, pés de laranja e pastagens. Um crime! As matas ciliares deixaram de existir contribuindo para dizimar nossos rios que, não raros, são verdadeiros depósitos de esgoto doméstico e industrial E parece que a recente crise hídrica ainda não serviu de lição!

Pouco adianta se temos a maior concentração de água doce do mundo, quando se observa que o aquífero Guarany, a cada ano, está baixando o seu nível e o pior, em determinadas regiões apresentando índices preocupantes de contaminação por agrotóxico, como em Ribeirão Preto. Parece que ainda não caímos na real de que a água é finita! Por último a questão do esporte que, nunca foi levada a sério nesse país.

Ao ver o Brasil entre os quinze primeiros na tabela de classificação das olimpíadas, vemos o quanto a falta de visão dos nossos dirigentes é flagrante. Não bastasse o fato de que, a quase totalidade dos nossos medalhistas são bancados pelas forças armadas, como militares por adoção, revela total falta de programas de incentivos do governo, ausência de apoio das universidades, falta de conscientização da iniciativa privada, e uma flagrante miopia esportiva.

Um time de futebol que exige 18 atletas inscritos(muitos ídolos mundiais), mais uma comissão técnica de um mínimo 10 profissionais a um custo exorbitante, passa por uma longa preparação e uma maratona de jogos, para conquistar apenas uma medalha.

Qualquer esporte individual não exige mais do que o próprio atleta e seu técnico a um custo irrisório, cumpre um número relativamente pequeno de contendas é também premiado com a mesma medalha que, paradoxalmente, tem o mesmo peso e não custa milhões de dólares como a que premia o futebol, vôlei, basquete, etc.

Se quisermos melhorar a nossa posição na tabela, podemos até continuar com essa visão estereotipada e tosca de investimento em esporte, que é quase nenhum, mas vamos deixar de ser burros e incentivar também e principalmente o esporte individual – custa pouco e tem o mesmo valor em ouro, prata ou bronze -, não é mesmo Comitê Olímpico Brasileiro? Cuba cansou de fazer isso, principalmente no boxe e a Jamaica trilha o mesmo caminho com o seu vitorioso atletismo.

A propósito, Usain Bolt, só nesta olimpíada, vai conquistar sozinho um número de medalhas de ouro igual ou superior às conquistadas pelos nossos atletas em todas as modalidades disputadas. Pode? Desde que o francês Barão Pierre de Coubertin, em 1896, instituiu na Grécia antiga a era moderna dos jogos olímpicos, a contagem de medalhas é assim, isto é, premia-se o(s) atleta(s) vencedores, mas considera-se apenas uma medalha e, a classificação é sempre pela ordem decrescente, tendo-se em conta o número de medalhas de ouro conquistadas. Olimpíadas à parte, o certo é que, pelo andar da carruagem, assim como foi com a nossa geração, nossos netos vão ter que continuar acreditando que esse é um país do futuro.

O problema é que esse futuro está cada dia mais distante e inalcançável!