Olhares múltiplos

Um dos principais assuntos da pesquisa visual de Jayme Guerra é o olhar. Cores e expressões de seus personagens multiplicam interpretações do entendimento do ato de observar o outro como uma maneira de encontrar a si mesmo ou de, pelo menos, realizar essa busca.

A estética proposta trabalha comumente com as pluralidades. Há em seus personagens muitos olhares e a fragmentação de imagens indica o perigo de o ser humano ter uma visão única sobre o mundo. Uma forma de atingir a sabedoria estaria justamente em ver o universo sob diversos aspectos, regidos pela diversidade de perspectivas.

Menina Celeste, 2024 – forma de isopor recoberta com tecido de algodão, detalhes em papel machê que passam pelo mesmo processo e pintura acrílica envernizada com resina epóxi – 106 x 50 x 45 cm

Seus personagens despertam questões sobre o olhar que geram ressonâncias no observador. O conceito remonta, por exemplo, ao cubismo de Picasso, mas Guerra persegue a construção de uma linguagem própria, propondo fragmentações que oscilam entre o drama e o humor.

A temática da multiplicidade de faces procura ainda abolir fronteiras rígidas entre a ilusão e o que se considera verdade. Trata-se de um olhar artístico sobre o mundo que mergulha plasticamente naquilo que chamamos de realidade por uma ótica complexa e surpreendente em que desnuda as pessoas como seres plenos de contradições.

Oscar D’Ambrosio @oscardambrosioinsta
Pós-Doutor e Doutor em Educação, Arte e História da Cultura, Mestre em Artes Visuais, jornalista, graduado em Letras, crítico de arte e curador.