Obra de Banksy defende direitos de imigrantes

O Festival de Glastonbury, que aconteceu no Reino Unido entre 26 e 30 de junho, teve uma série de intervenções relacionadas à imigração. Uma delas, que ocorreu durante a apresentação da banda de punk britânica Idles dia 28/6, foi a passagem por cima do púbico de um barco inflável com manequins vestidos com coletes salva-vidas. A ação aconteceu durante a canção “Danny Nedelko” (2018), que fala sobre a experiência de ser um imigrante. No dia seguinte, o artista visual Banksy publicou o ato em suas redes sociais, dando a entender que foi o responsável pela intervenção, enquanto um representante da banda afirmou que os integrantes não sabiam da ação.

A ação se insere em uma trajetória de obras socialmente engajadas do artista. Uma das melhores entradas para discutir o assunto está na obra do artista conhecida como “Batom no Holocausto”. A imagem é publicada no livro “Banksy: Guerra e Spray” (Intrínseca, 2012) ao lado de um texto que o artista encontrou no Imperial War Museum do tenente-coronel Mervin Willett Gonin Dso, que, em 1945, ao entrar no campo de extermínio nazista de Bergen-Belsen, escreveu a reação das mulheres recém-libertas ao receberem um grande carregamento de batom:

“Elas ficavam prostradas na cama sem lençóis ou camisolas, mas com os lábios pintados de escarlate. Você as via perambulando, com apenas um cobertor sobre os ombros, mas com os lábios pintados de vermelho vivo. Vi uma mulher morta na mesa do necrotério e ela tinha na mão crispada um pedaço de batom. Afinal alguém tinha feito algo para torná-las novamente indivíduos, não mais identificadas apenas pelo número tatuado no braço. Afinal, alguém se importava com sua aparência. O batom começou a devolver a elas sua humanidade.”

É justamente ao atingir o estágio de penetrar na essência humana, com a imagem de prisioneiras de um campo de concentração com os lábios pintados de vermelho, que Banksy dá densidade ao seu trabalho.

Oscar D’Ambrosio
@oscardambrosioinsta
Pós-Doutor e Doutor em Educação, Arte e História da Cultura, Mestre em Artes Visuais, jornalista, crítico de arte e curador.