Você já observou que a disposição dos números da sua calculadora e do seu teclado do computador de mesa é diferente do teclado do seu telefone fixo e também da calculadora do seu celular? Nas calculadoras comuns, os números 1, 2 e 3, estão na coluna de baixo e, nos telefones fixo e celular, na coluna de cima, assim como na própria calculadora do celular. Pode conferir! A explicação para essa disposição invertida é histórica. Quando os recursos da calculadora chegaram aos portáteis, os fabricantes usavam o próprio teclado físico dos aparelhos para fazer a inserção dos números a serem calculados — você se lembra dos teclados que eram compostos apenas por números, não é mesmo? Mas quando os smartphones se tornaram populares e uma mudança aconteceu.
As calculadoras passaram a ser aplicativos independentes e isso trouxe a possibilidade da demonstração de uma nova organização das teclas. Modificar a calculadora seria um erro matemático, então passou-se a usar a mesma formatação dos telefones de teclas e isso explica a diferença da posição dos teclados que praticamente ninguém nota. Ainda no mundo dos teclados, os mais jovens certamente nunca usaram uma máquina de escrever, mas conhecem os teclados dos notebooks e dos computadores que praticamente são iguais.
O que poucos sabem é a lógica da disposição das letras e aí vem a pergunta – Não seria mais fácil deixar as letras em ordem alfabética? A história começa na década de 1860, nos Estados Unidos, quando o político, jornalista, impressor e inventor Christopher Latham Sholes criou, junto com três colegas, uma das primeiras máquinas de escrever.
Inicialmente, o teclado se assemelhava ao de um piano, e as letras estavam dispostas em ordem alfabética. É a partir daí que a história do QWERTY(modelo de teclado mais usado no ocidente) é contada. Uma das teorias afirma que Sholes teve de replanejar o teclado em resposta a falhas mecânicas nas primeiras máquinas de escrever.
Assim, se um usuário teclasse rapidamente uma sucessão de letras próximas, a delicada máquina estragaria, daí, a separação das combinações de letras mais comuns na língua inglesa, como “th” e “he” e “in”. Em 1873”, a máquina de escrever tinha 43 teclas e um arranjo de letras decididamente contra-intuitivo, que supostamente ajudava a garantir que as máquinas não quebrassem. Nesse mesmo ano, Sholes e seus colegas firmaram uma parceria com a empresa Remington, que até então fabricava armas (com o fim da Guerra Civil dos Estados Unidos, a Remington precisava ganhar outros mercados).
Anos mais tarde, o sucesso da parceria ficou evidente: nos Estados Unidos, em 1890, havia em uso cerca de 100 mil máquinas de escrever com esse layout de teclado, produzido pela Remington. Três anos mais tarde, ela se juntou a outras empresas do ramo (Caligraph, Yost, Densmore e Smith-Premier) para formar a Union Typewriter Company, que adotou o layout QWERTY.
Uma das explicações pela manutenção desse arranjo de letras, estaria no fato de que a Remington, antes de se juntar às outras companhias, oferecia (a um pequeno preço) treinamento para datilógrafos, criando uma dependência maior entre usuários e a empresa – algo parecido com o que a Apple faz hoje em dia, dando oficinas em lojas e empresas para ensinar os consumidores a aproveitar melhor seus produtos. Há uma outra corrente que defende que a disposição das letras, tal como conhecemos, provavelmente surgiu para evitar falhas mecânicas e foi adotado como padrão graças a interesses comerciais da Remington, porém, em artigo publicado em 2011, pesquisadores da Universidade de Kyoto (Japão) analisaram a evolução dos teclados de máquinas de escrever e concluíram que o modelo surgiu a partir de sugestões e críticas dos profissionais responsáveis por testá-los.
Entre essas pessoas, estariam decodificadores/receptores de Código Morse, que precisavam digitar com rapidez. Seja como for, Sholes continuou criando outros layouts de teclado mesmo depois de ter passado o QWERTY para a Remington – um indício de que mesmo ele não considerava o sistema ideal. Na década de 1930, foi desenvolvido um grande rival do QWERTY, chamado Dvorak (o nome vem de seu inventor, August Dvorak) que teve pouca aceitação, não chegando a ameaçar o lugar do QWERTY que, consagrado, continua sendo o mais usado no mundo.
Até a década de oitenta existiam escolas de datilografia que, inclusive conferiam diplomas aos que concluíam o curso. A primeira aula consistia em digitar com a mão esquerda “asdfg” repetidas vezes. A segunda, já usando a mão direita, compreendia a digitação da sequência “hjklç”e assim, com os demais conjuntos de letras do teclado. Longe de imaginar quem havia inventado o teclado, datilografia foi o primeiro diploma que o colunista recebeu.
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