Ele é jovem, talvez não mais do que 35 anos e, apesar de desprovido de tudo, conserva os traços próprios da sua idade. Sua vida deletéria ainda não foi suficiente para torná-lo mais velho do que aparenta. A fragilidade do seu corpo, todavia são visíveis, maltratado pelo sol, vilipendiado pela bebida que retratam seu estado de maltrapilho.
São sete horas e o sol preguiçosamente o despertou do piso externo sem beiral do prédio em frente ao Museu Mons. Albino, onde passou a noite sobre alguns pedaços de papelão. Como não choveu, não foi difícil suportar a queda da temperatura da madrugada, combatida com goles de cachaça, tido como cobertor etílico que esquenta o sangue e o corpo e anuvia a cabeça. É hora de sair caminhando pelas ruas para mais um dia a ser preenchido sem fazer nada.
A primeira parada é na padaria na Rua Belém, em frente ao Hospital Padre Albino, onde sempre uma boa alma lhe oferece moedas ou mesmo pão com café. Muitos passam por ele e o evitam, talvez pela sua aparência nada agradável ou quem sabe pela notória falta de banho e as vestes surradas e encardidas. Poucos o conhecem e ele talvez não faz nenhuma questão de ser conhecido, por isso prefere viver sozinho no seu canto dormindo ao relento numa esquina da cidade.
Vendo-o diariamente despertando do seu catre é possível imaginar o que está por trás desse ser humano que não integra as estatísticas nem os índices dos que estão empregados e, tampouco os desempregados que esperam por um trabalho nem se for apenas um simples “bico”, que todos os candidatos prometem criar. Será? Seguramente ele integra os índices dos desvalidos, moradores de rua e andarilhos e nesse grupo não estão os pedintes que incomodam nos faróis da cidade e que fazem disso profissão.
Vendo-o à espera de um pedaço de pão e um copo de café na frente da padaria, não se imagina que este rosto sofrido esconde a verdadeira história de um ser humano que deve ter completado o colegial e, talvez por um bom tempo tenha sido um excelente profissional com carteira assinada e tudo.
De repente o desemprego, uma desilusão ou algum motivo sórdido da vida o fez abandonar tudo e entregar o destino à própria sorte de ser um faz nada. E, aí é de imaginar – alguém do serviço social o procurou? Deu a atenção que merece? Ouviu a sua história? Ofereceu perspectiva de uma nova vida? Levou para um banho e lhe deu roupas limpas?
Enfim, as perguntas são muitas para respostas de menos, mas o fato é que, até para ser um sem nada é preciso muita coragem. E isso não lhe falta!
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