O papel da indústria para transformar diretrizes do B20 em desenvolvimento

Ao presidir o G20 em 2024, o Brasil criou uma oportunidade para que o B20, braço da iniciativa privada no contexto da organização, elaborasse uma consistente agenda referente ao advento de uma economia mais sustentável e inclusiva. Sob a liderança da Confederação Nacional da Indústria (CNI) e com apoio do Boston Consulting Group, o grupo produziu uma agenda robusta para alinhar o universo corporativo às demandas globais e locais.

O B20 consolidou suas recomendações em três grandes eixos temáticos: Fortalecimento de Vantagens Competitivas, Fomento a Novos Potenciais e Promoção de Viabilizadores Estratégicos. No centro dessas discussões está a indústria, que desempenha um papel primordial na transformação da economia brasileira. Mais do que um agente econômico, o setor tem a capacidade de liderar a transição rumo a uma produção mais sustentável, promovendo soluções inovadoras em energia limpa, economia circular e descarbonização.

Penso que no eixo de Fortalecimento de Vantagens Competitivas, a indústria possa consolidar seu protagonismo ao investir em insumos como biocombustíveis e eletricidade de fontes eólica e solar, num processo de substituição energética. Além disso, a racionalização do consumo de recursos como água, por exemplo, e a adoção de práticas sustentáveis são passos fundamentais para consolidar nosso país como exemplo de soluções fabris de baixo carbono.

O Fomento a Novos Potenciais aponta para a necessidade de avanços em áreas como inteligência artificial, economia circular e formação de competências digitais. A indústria tem boas condições para liderar esses movimentos, tanto pela capacidade de investimento em pesquisa e desenvolvimento, quanto pela grande escala de sua produção. A adoção de tecnologias de IA aumenta a produtividade e abre espaço para soluções inovadoras em gestão de recursos, manufatura avançada e redução dos desperdícios. Simultaneamente, a economia circular alavanca o reaproveitamento de materiais, reduzindo o impacto ambiental e maximizando o uso de insumos naturais.

A indústria também pode ser protagonista quanto ao avanço do terceiro eixo, ou seja, a Promoção de Viabilizadores Estratégicos. Nesse sentido, investir em infraestrutura adaptada aos desafios climáticos e socioeconômicos não é apenas uma questão de competitividade, mas também de sobrevivência em longo prazo. Ao mesmo tempo, o setor tem a oportunidade de estabelecer uma cadeia de suprimentos mais inclusiva e eficiente, com iniciativas que contemplem, em todos os segmentos, a diversidade, equidade, inclusão social e digitalização da economia. Esses elementos são cruciais para garantir uma inserção competitiva que atenda às exigências da sociedade e do mercado global, posicionando o Brasil como player estratégico.

Os três eixos definidos pelo B20 desdobram-se em 10 pautas prioritárias: “Promoção de combustíveis do futuro”; “Financiamento de projetos de descarbonização em cadeias industriais”; “Modelos financeiros para agricultura sustentável”; “Desenvolvimento de inteligência artificial e infraestrutura de data centers”; “Estabelecimento do mercado brasileiro de carbono”; “Promoção de economia circular”; “Redução de medidas restritivas contra exportações brasileiras”; “Igualdade de gênero no mercado de trabalho”; “Treinamento profissional para competências digitais”; e “Planejamento de infraestrutura de resiliência”.

Essas iniciativas só serão possíveis com o envolvimento ativo da indústria, que deve atuar como catalisadora das transformações, cujo êxito requer estreita cooperação entre empresas, governos e sociedade civil. Cabe ao governo proporcionar as condições de competitividade e isonomia para que em parceria aconteçam os avanços.

A indústria é um relevante elo entre esses atores, pois tem capacidade para converter as diretrizes do B20 em ações concretas, promovendo investimentos que alinhem crescimento substantivo do PIB, inovação, bem-estar social e proteção ambiental. A transição para uma economia de baixo carbono e mais inclusiva e a adoção de tecnologias de ponta não são apenas oportunidades, mas também determinantes para a competitividade, fomento econômico e fortalecimento da posição do Brasil no cenário global.

*Rafael Cervone é o presidente do Centro das Indústrias do Estado de São Paulo (Ciesp) e primeiro vice-presidente da Federação das Indústrias do Estado de São Paulo (Fiesp).