Em setembro de 2017, um urubu solitário foi tema do artigo “A cidade vista do alto”. Essa mesma ave catartídea, agora fazendo-se acompanhar de uma companheira, volta a relatar o que os seus olhos vislumbram sobre a situação do comércio da área central. Eis o seu relato. – “Estou onde mais gosto de ficar, isto é, sobre a caixa d´água do antigo edifício Drogasil, na Rua Brasil, em frente a imponente e moderna loja Rener.
Urubina, minha jovem namorada, vez ou outra aparece por aqui para fazer uns voos panorâmicos e dividir comigo o puleiro projetado para ser uma grade de proteção do topo do edifício. Aqui no alto tudo é tranquilo e o céu com o seu vasto manto azul nesta estação de fim de primavera se revela mais claro e brilhante com o horizonte ainda mais expandido.
Olhando para as ruas e para as lojas, com pouco entra e sai de clientes, sinto nas penas as dificuldades que os comerciantes vivenciam nesta época de crise que parece não ter fim. Vejo que, o quase impossível em outros tempos, hoje facilmente se encontra vaga para estacionar.
Mas, vejo também pessoas não idosas ocuparem as poucos vagas existentes com destinação específica àqueles que possuem mais de 60 anos. E, esses deseducados não são poucos! Fico imaginando os lojistas com essa queda e inércia das vendas e não consigo entender como conseguem resistir ao tsunami dessa crise que não poupou ninguém e se arrasta faz anos. Sai ano, entra ano, sai mês, entra mês, e nada da economia decolar para reascender a esperança do povo. Vejo nas ruas pessoas caminhando desinteressadamente e insensíveis aos apelos dos vendedores e vendedoras tentando traze-las para o interior das lojas e locutores embalados por trilha sonora de musica sertaneja(ninguém merece!!!) bradando repetitivamente ao microfone convidando os transeuntes a conhecer a nova promoção e descontos incríveis de determinado estabelecimento(haja saco pra aguentar!).
O meu olhar de pássaro me faz crer que a coisa tá da cor das minhas penas, isto é, tá preta mesmo, como se costuma dizer. Tudo indica que o dinheiro sumiu da praça e as pessoas estão comprando o estritamente necessário. Mas onde está a rota, a esperança de crescimento e a diminuição do desemprego tão propalada pela autoridades econômicas? Até eu que vivo das sobras estou sentindo nas penas os efeitos da crise, pois cada dia está mais difícil conseguir comida e a concorrência cada vez mais acirrada. Os tempos são outros mesmos!
Minha companheira Urubina tem dado sorte e descolado uns nacos de comida, mas para isso é preciso se deslocar do centro. No fundo é até bom, pois minha vida está muito acomodada e, ao invés de dar voos mais altos na busca de novos horizontes, tenho ficado mais tempo no meu puleiro contemplando o centro da cidade. Isso não é legal!!! Como idoso prestes a completar sete anos de idade, percebo que a vitalidade não é a mesma, pois a idade média da minha espécie é de oito anos. Urubina, que é muito jovem e conta com apenas três anos de idade, acha que, pela minha qualidade de vida sempre me alimentando de coisas saudáveis, vou longe… Será mesmo verdade?
Daqui do alto, tenho esperado que as coisas lá em baixo melhorem, mas, pelo andar da carruagem e olhar de desânimo das pessoas, principalmente dos lojistas, nota-se que a coisa tá russa mesmo, menos para seleção Russa que está fazendo um boa campanha no mundial. Outro dia ouvi um comerciante dizer ao outro que, além da crise existe uma outra explicação para que, cada mês seja pior do que o outro: janeiro, mês de férias; fevereiro, carnaval; abril, festa do peão(que deixa a cidade sem dinheiro), março, porque além de não ser um mês bom de vendas, fica espremido entre o carnaval e a festa do peão, e assim vai…
Ampliando meu campo de visão para o Edifício Catanduva Center, vejo os investidores da Bolsa que, diariamente se reúnem nas salas 72/73 da Planner, no 7º andar do prédio, também preocupados. Segundo eles, de um mês para cá o mercado de ações registrou quedas significativas, chegando a 20% e o dólar, só está se segurando abaixo de R$4,00, por conta das providenciais intervenções do Banco Central.
Pra completar, a seca e a baixa umidade do ar tem agravado a rinite de muita gente e até mesmo eu, com o peso da idade, tenho sentido desconforto respiratório. Não tenho visto o rapaz de macacão cáqui com listas refletivas que era presença marcante e diária no centro, principalmente na esquina entre as ruas Brasil e Bahia com a sua velha bicicleta e saco plástico revolvendo o lixo na busca de latinhas vazias de alumínio e outros materiais recicláveis. O que será que houve com ele? Tá doente? Mudou de cidade? Encontrou um emprego formal? Tomara tenha encontrado o seu caminho.
Bem, além de apresentar minha companheira Urubina, quis transmitir o que tenho observado daqui do alto em relação ao comércio das ruas centrais da cidade. Posso dizer, de um modo geral, que a cidade está vazia tal como imagino o bolso dos consumidores e, isso é preocupante. Mas, o segundo semestre está perto e com ele, quem sabe as coisas venham a melhorar. Eu estarei por aqui no meu posto, quer dizer, no meu puleiro, atento ao que rola lá em baixo. Oportunamente voltarei, oxalá, com boas notícias. Ass. Urubservador.”
advogado tributário
www.buchadvocacia.com.br
buch@buchadvocacia.com.br