Livre Labirinto

Claudio Ramires apresenta em seu fazer pictórico uma potência estética perceptível na maneira como lida com os materiais, técnicas e suportes. Neste conjunto de obras, um aspecto formativo e informativo, que oferece a possibilidade de abrir leques interpretativos, valoriza o conjunto de trabalhos.

Estudo preliminar para um conjunto dos “Gran Centauri”

A relevância do tema, por exemplo, se dá no próprio título, que alude ao célebre mito do Minotauro, metade ser humano metade touro, devorador de homens belos e mulheres virgens na prisão que lhe foi construído como morada por Dédalo, pai da arquitetura, mítico fundador da ordem na composição de estruturas.

Nesse labirinto da mente que o abriga, o Minotauro, em sua simbólica mente aprisionada, deve ter pensado muito.  Analogamente, o instinto criador de Claudio Ramires povoa sua exposição de seres míticos, como o próprio Dédal; Minotauros; o ciclope Polifemo, com seu único olho na testa; Medusas que paralisam com o olhar; e centauros a caminhar na corda-bamba da existência.

Nesse sentido, a presença de Sísifo no projeto é muito significativa, pois enganou a morte e, por isso, foi condenado a carregar uma pedra ao topo de um monte e, ao vê-la cair, é obrigado a retomar a tarefa eternamente. Não seria essa a melhor metáfora possível da arte, concebida como um percorrer, de maneira contínua, um livre labirinto, olhando para o mundo e renovando-o constantemente pelos atos de pensar, fazer e criar?

Oscar D’Ambrosio
@oscardambrosioinsta)
Pós-Doutor e Doutor em Educação, Arte e História da Cultura, Mestre em Artes Visuais, jornalista, crítico de arte e curador.