Lirismo existencial

Uma exposição é um ato de se mostrar perante o mundo. Cada imagem que é colocada traz uma narrativa própria. Ela desnuda possibilidades de diálogo do artista com ele mesmo, com a sociedade, com a natureza e o universo. É um fazer que provém de um pensar e gera novas indagações. 

De certa maneira, “Na raiz do tempo, a matriz da cor”, de Sergio Lucena, no Museu AfroBrasil, em São Paulo, SP, é um mergulho em paisagens. Elas podem ser de várias tonalidades, mas se encontram por instaurar atmosferas em que mais importante que um possível falar de mundo externo a ser representado, é a sua autonomia pictórica.

Isso é reforçado pelos caminhos inseridos nos planos das cores e das formas. Multiplica-se assim o entendimento do ato criativo como um elo que o artista estabelece com seus materiais, sem precisar aludir a referentes do que se entende como realidade. Assim, o ato do fazer ganha autonomia e amplia potenciais interpretativos.  

Toda obra passa a ser um simbólico caminho de morrer e renascer. Manifestações em que as cenas remetem a teatros e cenografias ou a animais imaginários que se conectam à natureza, mas a lançam em outra dimensão. Seja qual for a vertente, Sergio Lucena cria paisagens do devir; e gera um lirismo existencial sobre os significados da arte .

Oscar D’Ambrosio 
@oscardambrosioinsta 
Pós-Doutor e Doutor em Educação, Arte e História da Cultura, Mestre em Artes Visuais, jornalista, crítico de arte e curador.