Liberdade cerceada

Dualidades existenciais aparecem em uma obra repleta de cores, alusivas ao universo da infância, mas também marcadas pela presença de elementos que apontam para conflitos, como as grades com pontas que aludem a flechas e lanças. A ingenuidade e a violência convivem assim com naturalidade.

As gangorras podem funcionar ainda como ícones dos altos e baixos da vida dentro da concepção da inexistência de estabilidades na convivência com um fluxo vivencial permanente. O lúdico da criança e os espaços de convivência progressivamente se tornam atos de reflexão como cada indivíduo se relaciona com o ambiente.

Mais do que uma posição de certeza ou de equívoco, a arte traz questões. O criador visual opta por criar tensões em que a ambiguidade representada está além de uma mera convivência entre o que pode parecer acolhedor (o espaço do brincar da gangorra) com o que apresenta limitações ao perigo (os índices do proteger das grades).

Além disso, as gangorras não se comunicam. Indicam uma vivência alegre, mas limitada. Surge uma situação tensa, um existir com barreiras. Pode-se continuar a brincar ou assume-se o final do jogo. É possível ainda que ação lúdica flua mesmo com grades cerceadoras da liberdade – e acostumar-se com elas não é uma boa solução.

Rommulo Vieira Conceição Estrutura dissipativa/ Gangorra, 2013 Pinacoteca Contemporânea @rommulo_vieira_conceicao @pinacotecasp

Oscar D’Ambrosio
@oscardambrosioinsta
Pós-Doutor e Doutor em Educação, Arte e História da Cultura, Mestre em Artes Visuais, jornalista, crítico de arte e curador.