Ao pedir o cancelamento do registro partidário do PT à Procuradoria Geral Eleitoral, o PSDB cometeu um erro por precipitação e falta de responsabilidade política.
O deputado federal Carlos Sampaio (SP), coordenador jurídico do PSDB, fez tal solicitação baseado no trecho de uma delação premiada do ex-presidente da Petrobras Nestor Cerveró. Segundo esse trecho, publicado pelo jornal “Valor”, recursos de Angola teria sido repassados ao PT para a campanha à reeleição de Lula em 2006.
A atitude de Sampaio só joga mais lenha na fogueira numa hora de crise. É um investimento na escalada do confronto entre governo e oposição numa hora em que o dólar atinge o maior valor nominal na era do Plano Real, em que a inflação dá sinais de força, no qual há uma recessão eliminando postos de trabalho e ainda por cima temos a ameaça do zika vírus à saúde dos brasileiros.
Existem inúmeros problemas no país que mereceriam mais atenção do PSDB do que um pedido de cancelamento do registro de um partido adversário, para o qual perdeu as últimas três eleições presidenciais, baseado num trecho de uma delação publicado por um jornal.
A acusação é grave. Se ficar provada, a própria Procuradoria Geral Eleitoral e a Justiça tomarão as medidas punitivas cabíveis. Mas há todo um procedimento investigativo e jurídico que precisa ser respeitado.
Carlos Sampaio já contestou a segurança das urnas eletrônicas, o uso de vestido vermelho pela presidente Dilma em pronunciamento na TV e agora pede, na prática, a extinção do PT. Já há um clima suficientemente conflagrado no país para que o deputado federal que atua como coordenador jurídico do PSDB faça uma aposta no aumento da guerra entre tucanos e petistas.
Esse pedido do PSDB ao Ministério Público dificulta um diálogo necessário entre governo e oposição a respeito de medidas econômicas para tirar o país da crise. As mazelas do Brasil não são problemas apenas do governo, mas de todos os seus cidadãos e de suas forças políticas.
O PSDB já governou o país durante oito anos. Enfrentou crises econômicas e tempestades políticas. Há notícia de que a presidente Dilma Rousseff pediu ao ministro da Casa Civil, Jaques Wagner, que faça contato com alguns nomes da oposição para tratar de medidas econômicas. É um caminho correto, mas que precisa ser percorrido com mais ênfase.
A própria presidente da República tem de tomar a iniciativa de procurar os ex-presidentes Lula, FHC e Sarney para conversar. Dilma também deveria convidar o senador Aécio Neves e a ex-senadora Marina Silva para uma reunião em que discutiriam ações econômicas. Mesmo que haja risco de fracasso, seria uma tentativa importante de distensionamento.
A responsabilidade maior pela atual crise é do governo Dilma e do PT, que estão no poder. A presidente deve ser cobrada por isso. Mas a oposição não pode se comportar como se não tivesse compromisso com soluções, mas apenas com mais gestos de guerra política. É ruim para o país. A classe política como um todo tem de agir com mais responsabilidade.