Fomos informados hoje, 15/7/2024, do falecimento de Aguinaldo José Gonçalves, poeta, escritor, crítico de arte e teórico na área da literatura. Fascinou e formou uma geração de alunos e colegas com suas aulas e publicações nas áreas de Literatura, com ênfase na Intersemiótica, nas relações homológicas entre palavra e imagem.
Para homenageá-lo, recordo do poeta inglês Shelley (1792-1822), que afirmou que “os poetas são os legisladores do mundo, não reconhecidos”. Entenda-se aí “legislar” como a capacidade de “estabelecer ou fazer leis”, só que essa capacidade, nos artistas da palavra, raramente traz algum reconhecimento, gerando, sim, muitas vezes, uma distância quase irreconciliável com o mundo.
Considerado um dos principais estudiosos de semiótica do país, ainda mais quando se fala da relação entre linguagens, mais especificamente entre poesia e artes plásticas, Aguinaldo criou diálogos inteligentes e densos com aquilo que se considera realidade, confirmando a sua capacidade de ser um apaixonado pela vida e pela palavra.
Victor Hugo (1802-1885) dizia que “um poeta é um mundo encerrado num homem”. Aguinaldo Gonçalves confirma essa tese, conseguindo algo muito difícil para os artistas da palavra que ingressam na vida acadêmica: manter-se poetas e humanos sem sucumbir ao tecnicismo e à erudição vazia.
O poeta e crítico ensina a abrir a abrir mão das certezas em busca da própria essência da existência, da arte e de si mesmo, alertando que a poesia ainda é possível, desde que tenha a mais profunda humanidade, aquela que artistas como Aguinaldo Gonçalves conhecem: a de que viver significa conviver com as aproximações e com o falível, não tentando manter a eternidade de uma rosa, mas sim conviver com sua grandeza e caráter efêmero e imperfeito.
Oscar D’Ambrosio (@oscardambrosioinsta)
Pós-doutor e doutor em Educação, Arte e História da Cultura, mestre em Artes Visuais, jornalista, graduado em Letras, crítico de arte e curador.