Girias démodé

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Pode parecer estranho, mas démodé, ou fora de moda, conforme pode ser conferido no Dicionário Eletrônico Aurélio, se grafa com dois acentos mesmo. As gírias e as expressões, assim como a moda, os modelos de carros e as descobertas marcam e identificam determinadas épocas.

Hoje, principalmente os adolescentes e os jovens se comunicam pela internet com abreviações e sinais, para muitos de nós ininteligíveis. Assim, beleza, é blz; você, é vc; porque, é pq; falou, é flw; valeu, é vlw; obrigado é obg; final de semana, é fds; até mais, é té+; amigo, é amg; certeza é ctz; não é n; saudades, é sdds; brincadeira, é brinks; sem dinheiro, é fora dos pano, e por aí vai…

Sem querer entrar no mérito quanto às possíveis mazelas dessa forma de comunicação, o fato é que muitos estudiosos entendem que estamos criando uma geração de semianalfabetos, porquanto ler e até mesmo conversar virou exceção.

Antes da internet as pessoas conversavam com os vizinhos, enviavam cartas escritas à mão e legíveis, telegramas para mensagens rápidas e urgentes e se falavam muito pelo telefone fixo. Hoje, os jovens mal sabem escrever, não só pela ausência de vocabulário, mas, também, em face a letra “garranchal” e inelegível; usam cada vez menos o celular pra falar, mas não abrem mão dele para se manterem full time conectados e até mesmo dependentes das redes sociais, do tipo facebook, whatsapp, instagram, etc.

Mas, voltemos às gírias. No século passado, especialmente na década de sessenta até oitenta, era “bacana” usar algumas gírias e expressões que hoje estão literalmente em desuso. Bidu, pra dizer advinhão ou pessoa esperta; falouuuu ou falou e disse, pra dizer que tudo estava ok ou algo parecido; bicho, pra substituir amigo; gamado, pra dizer que estava apaixonado; mina, referindo-se a alguém do sexo feminino; papo furado, o mesmo que conversa fiada ou sem sentido; morô, o mesmo que entendeu?; chato de galocha, pra definir pessoa irritante; cafona, pra definir pessoa fora de moda, démodé; joia, que é o mesmo que legal; russo, pra definir difícil complicado; pão, usado pelas mulheres pra identificar homem bonito; pindaíba, isto é, sem grana; pombas, pra expressar surpresa, indignação; grilado, que é o mesmo de preocupado, entediado.

Essas expressões, se usadas hoje, soam bokomoko (individuo bobo, “bocaberta”, ingênuo), para a nova geração, cujos jovens de hoje costumam dizer, que estão noutra! Para se notar a diferença imaginemos agora como ficaria a seguinte frase dita pelos jovens dos anos setenta e pelos adolescentes nos dias atuais: “Sabe amigo, aquela menina que me achava um cara legal e bonito, de repente ficou entediada e me achou, irritante, fora de moda e sem dinheiro.”

Anos setenta: “Sabe bicho, aquela mina que me achava um cara joia e um verdadeiro pão, de repente ficou grilada e me achou um chato de galocha, cafona e na maior pindaíba”. Nos dias de hoje, duas versões: “Sabe cara, aquela mina q me achava maior gato, ficou na bronca me achou por fora, mala e sem money”, ou ainda, “Sabe mano, aquela gata q me achava da hora saiu fora pq me achou um mala, eu tava s/ grana e fora dos pano”.

Como se vê, a nossa língua, a cada década, a cada dia, mais se distancia da sua beleza, originalidade e riqueza que a faz uma das mais lindas e sonoras do mundo. Os tempos realmente mudaram e, nesse caso, seguramente pra pior!!!

Em tempo: Com aproximadamente 280 milhões de falantes, o português, classificado com língua romântica flexiva, é a 5ª mais falada no mundo, a 3ª mais falada no hemisfério ocidental e a mais falada no hemisfério sul da terra.