Fazenda centenária de pesquisa pública agrícola perde mais de 90% dos servidores

Referência em pesquisa pública agropecuária, a fazenda da Apta Regional de Tietê completou 100 anos em 2024. Inaugurada em 12 de janeiro de 1924, a propriedade chega ao centenário como referência em pesquisa pública, mas assombrada pela falta de investimentos. 

Cenário bastante diferente de décadas atrás, quando as terras da fazenda contribuíram para que cientistas e servidores de apoio desenvolvessem variedades de Feijão Carioquinha e mangas Tommy e Palmer resistentes às pragas. Ensaios de sorgo-vassoura também deram origem aos cultivares comerciais. 

“Ao longo deste século de existência, a fazenda contribuiu para gerar conhecimento e manter o Estado de São Paulo na vanguarda da economia nacional, dando origem a produtos agrícolas que são indispensáveis na mesa do brasileiro”, destaca Sérgio Alves Torquato, pesquisador que integra a diretoria da Associação dos Pesquisadores Científicos do Estado de São Paulo. 

A fazenda, que pertence ao Estado, está localizada no município de Tietê, região de Sorocaba, a 142 quilômetros da Capital Paulista, e conta com 253 hectares, dos quais 90 são de áreas de preservação. No auge das pesquisas, a propriedade chegou a contar com 60 servidores nas carreiras de apoio. Hoje, são apenas três, uma redução de mais de 90%.  

O número de pesquisadores científicos também despencou, passando de oito para apenas três, e um deles com tempo para se aposentar.  

“A quantidade de servidores do Estado atuando na fazenda é resultado de uma política de desmonte do trabalho científico que afeta fortemente a agricultura e ameaça a competitividade dos agricultores paulistas, como é o caso da fazenda em Tietê”, reforça Helena Dutra Lutgens, presidente da APqC. 

Sem gente para ajudar no manejo das lavouras de testes e com tão poucos cientistas, a produção de pesquisas na fazenda em Tietê resiste graças ao empenho dos poucos servidores que ainda atuam no local. Atualmente, seis estudos são realizados com eucalipto, teca e gado, em sistemas de Integração Lavoura Pecuária, Floresta (ILPF), IATF, sanidade (Nelore x Angus), Soja e Macaúba consorciadas, com forte potencial de sustentabilidade na produção agrícola. Mas teria potencial para realizar muito mais estudos, caso houvesse maior número de servidores trabalhando no local. 

“Se o Estado conseguiu enfrentar pragas em diferentes culturas, nas últimas décadas, isso só foi possível porque havia pesquisador no campo estudando, gerando conhecimento e dando origem às variedades de alimentos mais resistentes. Mas diante do atual cenário de precarização dos Institutos Públicos de Pesquisa, não apenas na área de agricultura, não haverá condições para a pronta resposta quando novas ameaças comprometerem resultados agrícolas, especialmente aquelas variedades que não têm interesse comercial das grandes empresas”, argumenta Lutgens.  

Além da falta de investimentos, a documentação da propriedade também está irregular.   

“Esta área de pesquisa é motivo de orgulho para a agricultura paulista e deveria receber os investimentos proporcionais à sua importância, mas, infelizmente, o Estado tem negligenciado a área de pesquisa. O governo Tarcísio de Freitas (Republicanos) precisa ter sensibilidade diante do cenário atual, e investir recursos em pesquisa científica, nos Institutos Públicos das áreas de agricultura, meio ambiente e saúde”, finaliza a presidente da APqC.