“Bom dia, tudo bem? Meu nome é Armindo (o nome foi alterado por razões óbvias). O senhor tem algum trajeto melhor do que o indicado no aplicativo Waze? É que, nem sempre o Waze indica o caminho mais rápido”! – Esse foi o início do diálogo entre o colunista e o motorista do Uber, acionado pelo eficiente aplicativo para um trajeto curto no sentido bairro centro da cidade de São Paulo e que custou precisamente R$11,37.
Sua história provavelmente não difere de tantas outras que retratam a vitimização de milhares de empresários que quebraram por conta da crise econômica ou antes mesmo dela, em decorrência da abertura do mercado pelo governo do PT para os produtos chineses.
A concorrência e a competividade, em qualquer lugar do mundo, são sempre saudáveis, pois incentivam e obrigam as empresas a se tornarem mais eficientes, ampliando a escolha dos consumidores e contribuem para reduzir os preços, além de melhorar a qualidade.
Armindo tinha uma empresa que fabricava malhas e meias. Fundada pelo pai, contava com 390 funcionários e investia continuadamente no desenvolvimento de novos produtos e na renovação do seu parque fabril com a importação de máquinas que eram adquiridas na Alemanha. Como “CEO” (Chief Executive Officer) da empresa, participava de todas as feiras, inclusive no exterior, e era um diretor atuante do sindicato da categoria que tinha a Lupo também como associada. Fabricava para speedo, adidas, mizuno, nike e outras marcas famosas e possuía também a marca própria “Alert” que, à época, era uma cueca bastante conhecida no mercado.
– “Aí o Barbudo resolveu zerar os tributos na importação de malhas e cuecas. Eu, assim como todos os demais empresários do ramo, de uma hora para outra ficamos sem chão. Um quilo de produto acabado vindo da china custava menos do que um quilo da matéria que usávamos na produção. Não tinha como competir”! – comentou Armindo com os olhos marejados.
A partir daí, segundo ele, todos foram quebrando, só sobrou a Lupo porque, além da marca ser muito forte e de grande aceitação nacional, a empresa havia criado o conceito de lojas próprias e franquias que garantiam o escoamento de grande parte da sua produção. Armindo vendeu tudo, fez acordo com quase todos os funcionários. Remanesceram apenas 12 que não quiseram fazer acordo e nada vão receber, segundo ele, apesar da condenação na Justiça, porque nada sobrou para satisfazer a dívida.
– “Quem tudo quer, nada tem”, observou com certa tristeza. As últimas máquinas importadas da Alemanha, algumas com menos de três anos de uso, foram vendidas para o ferro velho a preço de sucata. Além de corretor de imóveis na região de Alphaville nas horas vagas e uma modesta aposentadoria, Armindo hoje é motorista do Uber e conduz um Fiat Siena, valendo-se do Waze, quando o passageiro não sugere outra rota, para exercer sua nova profissão.
De empresário bem sucedido à frente de empresa familiar para a sua situação atual, bastou uma simples canetada. Com a sua empresa alijada do mercado pela irresponsabilidade do governo, sobrou a tristeza de ter desempregado quase 400 pessoas, a família, o Siena que lhe traz a dignidade do trabalho e apenas essa história. E, não é pouco!