É possível que você leitor, a exemplo de muitas outras pessoas que não lerão este artigo, tenha se perguntado um dia – e se….? É bem verdade que o “se” que ilustra o título do artigo, quando estudado à luz da morfologia e da sintaxe, pode ter distintas funções, levando-se em consideração o contexto em que se encontra inserido.
Pode ser substantivo, conjunção e até pronome, mas no caso o “se” se enquadra no time da “conjunção subordinativa condicional”, nomenclatura complicada para definir um vocábulo composto de apenas uma consoante e uma vogal, não é mesmo? Mas, por essa leitura o “se” estabelece um sentido de condição, podendo equivaler-se a “caso não”.
Feitas estas perfunctórias digressões e observações gramaticais, vamos lembrar alguns episódios onde o “se” faria enorme diferença na vida das pessoas e principalmente na história: E se o nosso país fosse colonizado por espanhóis, como toda a América Latina o foi ou por Ingleses e Irlandeses, como foram os EUA? E se não existisse Santa Rita do Passa Quatro, existiria Zequinha de Abreu, autor do clássico universal “Tico-tico no fubá”? E se o Cartola não fosse carioca e não gostasse de samba, existiria a música que é uma verdadeira poesia “As rosas não falam”? E se aquela boate de Apucarana não tivesse fechado pela morte do Papa João XXIII, em 03 de junho de 1963, será que o compositor Benedito Seviéro, teria outra inspiração para compor “Boate Azul”?
E se as bombas que atingiram, em agosto de 1945, Nagasaki e Hiroshima, tivessem falhado ou caído no mar? E se o Pelé tivesse convertido em gol aquela jogada em que ele engana o goleiro e a bola caprichosamente passa rente a trave? Do mesmo Pelé, e se aquela bola chutada do meio de campo tivesse entrado? E se o goleiro da Chapecoense não tivesse defendido aquela bola quase indefensável no jogo que garantiu o empate de 1×1 contra o San Lorenzo, na semifinal da Copa Sul Americana? E se o Roberto Baggio não tivesse perdido aquele pênalti em Los Angeles, no dia 17 de julho de 1994, que permitiu ao Brasil, após 24 anos de jejum, tornar-se tetracampeão mundial de futebol? E se o presidente Kenedy tivesse repentinamente se movimentado e a bala que o matou não o atingisse? E se Carlos, o Chacal, retratado no filme, “O dia do Chacal”, tivesse conseguido disparar o projetil que se encontrava na mira contra a cabeça do General Charles de Gualle?
E se Hitler tivesse sido alvejado pela polícia em Munique na sua primeira tentativa frustrada de golpe liderando o partido nazista, contra o governo da região alemã da Baviera, em 9 de novembro de 1923? E se o Supremo Tribunal Federal não tivesse decidido contra a prisão em segunda instância? E se o PT não tivesse roubado e enganado tanto, como seria hoje o país? E se a barra da direção do carro do Ayrton Senna não tivesse quebrado na curva do Tamburello em Ímola, na Itália, em 1º de maio de 1994? E se você tivesse chutado letra “c” (c de certo) e não “e” (e de errado), naquela única questão que faltou para sua aprovação num concurso importante que mudaria o rumo da sua vida? E se você tivesse subido no estribo do cavalo da sorte quando ele passou na sua porta e você o ignorou?
E se você tivesse nascido mulher e não homem e vice-versa? E se você fosse o autor de uma música de enorme sucesso no mundo ou de um livro que se tornaria best seller em vários países? E se você não mais esperasse das pessoas aquilo que você quer que elas sejam? E se você passasse a ser inteiramente você mesmo e não aquilo que as pessoas querem que seja? E se você não tivesse pisado fundo no breque ou desviado daquele obstáculo a 120 km/hora? E se você tivesse acreditado na sua intuição e apostado naquele número que lhe surgiu em sonho e que foi o premiado? E se você tivesse escolhido outra profissão quando teve a chance de optar? E se você …, bem, em inúmeras situações no curso da história e mesmo na vida de cada um de nós, o “se” deve ter sido invocado. O “se” não explica e nem responde, mas permite imaginar quão diferente seriam as coisas se ele não fosse apenas uma conjunção condicional e se (olha ele aí de novo) o ser humano fosse dotado da capacidade de comparar e prever como seriam as duas situações, com e sem o “se”.
Como isso não é possível, apesar do avanço da inteligência artificial, o “se” continuará sendo esse diminuto vocábulo, que é muito mais dúvida do que resposta e sabe porquê? Porque na maioria das vezes a resposta está dentro de nós e, preferimos usar sempre o “se” para tentar explicar ou indagar os insucessos do passado, quando melhor seria usá-lo afortunadamente para errar menos no futuro, medindo os prós e os contras antes de uma tomada de decisão importante. Então, aprenda a usar o “se” antes para não ter que usá-lo depois, e isso é um aprendizado.