A frase do hino nacional brasileiro funciona como síntese de uma série que apresenta uma visão daquilo que o Brasil pode representar para os seus filhos a partir de um solo pleno de possibilidades que tenta ser cultivado da melhor maneira possível pelas mães, mas que traz resultados geralmente distantes do que se poderia idealmente esperar.
Ao ver o conjunto dos trabalhos de Valdemir do Bonfim com esse título torna-se possível verificar diversas vertentes de
raciocínio visual perante a situação nacional em que metáforas associadas a potencialidades de crescimento de uma árvore e ao mapa nacional surgem em uma atmosfera de marcas de dor e resíduos, como bitucas de cigarro.

São representações de uma sociedade doente, plena de cicatrizes, que necessita de medicamentos para sobreviver. Pelo ato de criar, Valdemir do Bonfim mostra a natureza destruída e as mazelas da sociedade, configurando um caos em que a gentil mãe terra grita inutilmente por socorro em tons ocre e avermelhados.
O artista cria fragmentos do que podemos considerar um Brasil arrasado em busca de respostas-chaves. O esterco, entre outros materiais, se faz presente de maneira literal e por meio da palavra – e atrai moscas nada higiênicas. Existe, porém, a possibilidade de algum tipo de renascimento ou ressurreição, pois toda árvore tem a força de recomeçar.
As imagens indicam caminhos que despertam inicialmente reações emocionais. O pensamento e as observa e nota a sua expressividade, gerando oscilações de percepção entre as possibilidades de criar um mundo melhor ou de se afundar em uma depressão, temendo o pior para o Brasil, “mãe gentil” dos filhos nascidos em seu solo.
Oscar D’Ambrosio
@oscardambrosioinsta
Pós-Doutor e Doutor em Educação, Arte e História da Cultura, Mestre em Artes Visuais, jornalista, crítico de arte e curador.