Conheça a pesquisadora Helena Dutra Lutgens, homenageada com a maior honraria do legislativo paulista

O meio ambiente foi a escolha de Helena Dutra Lutgens muito antes de o tema se transformar em uma emergência global. Criada na zona norte de São Paulo, a pesquisadora científica é mestre e doutora em conservação e manejo de recursos naturais, e teve sua trajetória condecorada com a outorga do Colar de Honra ao Mérito Legislativo, maior honraria oferecida pela Assembleia Legislativa do Estado de São Paulo (Alesp). 

“Quero registrar a emoção de passar por isso aqui, já que em momento algum imaginei, até porque sempre estive do outro lado, do lado de quem está questionando”, afirmou, em discurso, durante a cerimônia na Alesp. 

A homenagem foi uma iniciativa do deputado estadual Carlos Giannazi (PSOL) e aprovada pelo plenário da Alesp. Antes de se tornar cientista do Instituto Florestal (IF), a vice-presidente da Associação dos Pesquisadores Científicos do Estado de São Paulo (APqC) tinha como sonho ser médica, mas durante os cursinhos preparatórios conheceu a área que mudaria os planos profissionais.  

Helena Dutra Lutgens ao lado de Carlos Giannazi (Carol Mendonça/Divulgação)

“O curso de ecologia era muito novo, bem como o próprio movimento ambiental era muito recente”, lembra.  

Aprovada em medicina e em ecologia, para frustração de parte da família, à época, optou por seguir o caminho do meio ambiente na Unesp de Rio Claro, com o apoio do pai, motorista de ônibus, e da irmã mais velha entre os 9 irmãos. Sua trajetória no Instituto Florestal começou em 1988, como estagiária voluntária.  

Depois de um período no Parque Estadual da Cantareira, em 1994, foi aprovada em concurso público para Assistente de Pesquisa, uma das carreiras de apoio do IF. Dez anos depois, após novo concurso, ingressou na carreira de pesquisadora científica. 

Além do trabalho de pesquisa, Helena é referência na defesa do Sistema Ambiental Paulista, que tem sofrido ataques nos últimos anos. Como membro da APqC, se mobilizou, em 2020, contra a extinção dos Institutos Florestal, de Botânica e Geológico, além da Superintendência de Controle de Endemias (Sucen), durante o governo de João Doria, à época no PSDB. A entidade defende a recriação dos Institutos. 

“Em muitos momentos foi colocado que esta honraria é extensiva a todos os pesquisadores, e, de fato, é. Extensiva a todos os meus colegas, e um grupo em especial, de pessoas que se indignaram diante da extinção dos Institutos de Pesquisa do Estado de São Paulo e que não se subordinaram a essa situação”, disse Helena, que é co-autora do livro “Diagnóstico da desestruturação da pesquisa científica ambiental e do sistema de áreas protegidas no Estado de são Paulo, Brasil”.  

A publicação mostra como a fragilização do sistema ambiental gera riscos para a sociedade e para a liderança competitiva do Estado de São Paulo. A pesquisadora destacou a importância de uma mudança de paradigma e fez um alerta sobre a necessidade da preservação. 

“Nós estamos chegando à beira do precipício”, afirmou. “Não tem essa de vender floresta e entrega unidade de conservação para a iniciativa privada, entregar água, entregar energia. Isso é se jogar no precipício, é correr em direção a ele”. 

Autor do pedido de homenagem, Giannazi falou da admiração que tem pela pesquisadora. 

“Admiro muito a Helena, que foi uma professora para o nosso mandato. Aprendemos muito com a Helena, ela foi uma guia para nós, principalmente no momento em que os Institutos de Pesquisa estavam sendo atacados, com o PL529. Ela estava na luta contra a extinção dos Institutos e está agora na luta pela recriação deles”, afirmou Giannazi. 

Homenagem 

Durante a cerimônia, convidados também puderam discursar sobre o trabalho realizado pela pesquisadora científica.  

“A Helena foi uma das pessoas que mais lutou contra a extinção dos Institutos, junto com o Fred (Frederico Alexandre Roccia Dal Pozzo Arzolla) e a Gláucia (Gláucia Cortez Ramos de Paula). Foi uma surpresa muito grande a extinção, porque não estava nos planos e foi colocado de última hora, mas a Helena sempre soube se colocar de uma forma muito firme, muito digna” – Patricia Bianca Clissa, presidente da APqC. 

“É um orgulho muito grande para todos nós, pesquisadores científicos, esta honraria que você recebeu. Agradecer ao deputado Carlos Giannazi a atenção que ele dedica a todos os Institutos de Pesquisa e aos pesquisadores científicos aqui do Estado de São Paulo” – Addolorata Colaríccio, 1ª vice-presidente da APqC. 

“A Helena tem desenvolvido um trabalho extremamente importante na defesa da pesquisa científica, mas não é qualquer pesquisa científica. É, sem dúvida, a área mais importante para o planeta, que é a questão ambiental. Então, professor Carlos Giannazi, o senhor está de parabéns de fazer esta homenagem” – Luciene Cavalcante, deputada federal. 

“Você tem homens públicos hoje que não vêem a coisa pública, que não observam aquilo que eles têm sob seu mandato, sua gestão. A questão pública está relegada a lobbys, está travada por diversas burocracias, e a Helena está aqui para provar que isso não é estrutural do serviço público. Ela está aqui para mostrar que no serviço público há sim pessoas pensando para o bem público” – Fabio Sanches, da Rede Nosso Parque. 

“A luta nunca é em vão. A gente pode ter dias de dificuldades, mas outro dia virá e pessoas como você (Helena) e tantas outras aqui presentes hoje têm contribuições para construir uma sociedade melhor” – Raphael Lucatelli, vereador de Mogi Guaçú. 

“Ao receber esta honraria da Assembleia Legislativa, eu tenho certeza, é para você, mas é também para todos os pesquisadores científicos, que estão também sendo homenageados através de você”- Celso Giannazi, vereador de São Paulo. 

“Assim como minha mãe luta pela causa do meio ambiente, ela lutou muito por mim e sempre vai lutar por tudo que ela acredita. Como ela mesmo fala, não está lutando para vencer, ela luta porque ela acredita, e não para ela, pois ela pensa em todos e eu sou muito grato por ter uma mãe como ela”- Henrique, filho de Helena. 

“A gente que conhece a Helena, que é da família, sabe que o objetivo dela é batalhar pelo meio ambiente, e sempre foi, não é de hoje. Faz 40 anos ou mais que ela faz isso. Então, é muita honra pra gente, muito orgulho, ela merece. E é muito bom a gente ver este tipo de honraria ser dada a uma causa dessas”- Neuza, irmã da Helena. 

“Helena Dutra, eu conheço sua trajetória, porque você entrou pela porta da frente, foi funcionária de apoio à pesquisa e não deu as costas a sua origem. Continuou defendendo enfaticamente a criação de uma carreira de apoio à pesquisa e continuará defendendo valores que são atemporais”, Luiz Barretto, servidor da carreira de apoio à pesquisa do Instituto de Botânica.  

“A Helena queria ser médica e adotou a medicina, a medicina preventiva, porque cuidar do meio ambiente faz parte disso. Por outro lado, a Helena é funcionária pública estatutária, pesquisadora. Se ela não fosse estatutária, ela não poderia agir com toda coragem que ela age. Isso nos dá a sensação de que esta homenagem é extensiva aos funcionários públicos estatutários” – Marie Madeleine Hutyra de Paula Lima. 

“Honra é aquele que tem a conduta proba, corajosa, reservada apenas aos heróis. Parabéns à Assembleia Legislativa de São Paulo, parabéns deputado (Carlos Giannazi) que está escolhendo uma verdadeira heroína de carne e osso, hoje”, Helena Goldman, advogada. 

“A coragem que a gente encontra na Helena é rara. Parabéns, Helena e obrigado deputado (Carlos Ginnazzi) por reconhecer isso” – Joaquim Azevedo, pesquisador científico e ex-presidente da APqC. 

Assista à cerimônia aqui

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