Como se libertar de um narcisista

O livro “Como se libertar de um narcisista” (Editora Sextante), de Sarah Davies, tem como objetivo levar o leitor a reconhecer um relacionamento tóxico, se livrar da manipulação e recuperar a autoestima. Parte do princípio de que não se pode mudar um narcisista, mas sim mudar a forma de lidar com ele ou mesmo abandoná-lo. Esse processo, porém, é descrito como esse relacionamento abusivo costuma ser desgastante e enlouquecedor.

Carmen Taboada (@carmen.taboada.378) – Narciso – óleo sobre linho – 60 x 50 cm

O narcisista, amável e sedutor num momento, agressivo e cruel no outro, usa a manipulação para manter o parceiro preso em uma teia de confusão e mentiras. No livro, a autora, psicóloga, oferece um guia prático para identificar as principais características do narcisismo e reconhecer os sinais de alerta.

É lembrado, por exemplo, que o mito de Narciso é uma narrativa de paralisia. Fixada m si mesma, a pessoa não consegue desapegar de sua vaidade, da adoração e do amor que sente pela própria beleza. Assim, definha e morre, sendo posteriormente transformado na planta que leva o seu nome.

A pintura que acompanha este texto retrabalha esse universo da mitologia grega, tornado célebre pela interpretação de Sigmund Freud, apresenta, pictoricamente, um diálogo intenso entre o vermelho e o azul, com a presença do fundo preto, manchas de amarelo e rostos de um branco que tende ao gélido como a indicar seres paralisados e automatizados.

A paleta de cores, nesse sentido traz uma reflexão sobre o pulsar da vida que dialoga com um certo equilíbrio. Se o sangue traz sentimentos próximos da paixão por indicar um fluir, o azul aponta para algum tipo de paralisia. O conceito de Narciso se olhar nas águas de um plácido lago reforça esse conceito de ausência de movimento.

A pintura instaura um ir e vir entre as imagens pela maneira como ocorre a aplicação da tinta. O entorno pode se alterar, mas as faces permanecem paralisadas. Como alertava o sábio grego Heráclito, Narciso é derrotado quando o ser humano percebe que ele nunca se banha no mesmo rio porque ambos estão em contínua transformação.

Oscar D’Ambrosio       @oscardambrosioinsta
Pós-Doutor e Doutor em Educação, Arte e História da Cultura, Mestre em Artes Visuais, jornalista
, graduado em Letras, crítico de arte e curador.