Clube do Bolinha – Três já se foram

 

  Corria o ano de 1979 –  João Batista Figueiredo tornara-se,  em 15 de março,  o 30º presidente do Brasil,  vindo a assinar,  em 28 de agosto,  a Lei da Anistia que permitiu o retorno ao país dos exilados políticos. A inflação naquele ano bateu 6,8%, a moeda era o cruzeiro e o ministro da Fazenda que sucedera Mario Henrique Simonsen, era Karlos Heins Rischbieter.

O Internacional de Porto Alegre, com o craque Falcão e os diferenciados Mauro Galvão e Mario Sérgio, conquistou invicto o campeonato brasileiro.  O mundo artístico perdia o escritor e teatrólogo  Procópio Ferreira e morria também nos EUA o mocinho de tantos filmes de faroeste John Wayne. O fato internacional mais marcante foi a queda do excêntrico ditador de Uganda Idi Amin.

Em Catanduva, o prefeito era José Alfredo Luiz Jorge e a população, segundo o IBGE,  viria a contabilizar 72.865 habitantes no ano seguinte. A principal fonte de geração de ICMS para o município provinha das empresas exportadoras de café J. Marino e COCAM(solúvel). E, foi nesse cenário que três amigos – este colunista, Luiz Gonzaga Goldoni(empresário de café) e Geraldo Sérgio Vieira(excepcional provador de café),  passaram a se reunir,   todas às feiras-feiras  às 18h30, em um bar qualquer da cidade,  para um happy hour,  que à época era também chamado de aperitivo.

Desde os primeiros encontros convencionou-se que o bate papo não ultrapassaria às 21h00, como acontece até os dias atuais.  Assim nasceu o “Clube do Bolinha”,  que, desde o seu surgimento,   tem como regra, não possuir regra alguma, nem  lista de presença, tampouco estatuto, muito menos presidente ou qualquer outra norma. A única exceção é a divisão  da conta em partes iguais. O mais interessante nessa história é que a frequência é quase sempre unânime.

Em datas especiais(Pascoa, dia das mães, Natal, etc, as esposas também comparecem).  Já se vão quatro décadas de muitas alegrias, inúmeras histórias, alguns poucos grilos, viagens incríveis e algumas perdas. Dos três percursores, o Serginho foi o primeiro a deixar o grupo pouco mais de dois anos depois, mas,  não demorou muito para o Germano Braga Bianchini, em outubro de 1984,  recompor o trio que permaneceu unido por dois ou três anos, quando por volta do ano de 1986, o Paulo Sérgio Simões(Paulinho),  passou a frequentar o clube e, em  1988 o Wilson Cazelato tornou-se o próximo a dividir a conta que, em seguida trouxe o Fuad Bauab.

No ano seguinte, em 1990, Nelson Lopes Martins tornou-se o sétimo integrante, completando o time à época que, assim permaneceu por mais de duas décadas. Por volta de 2004, o advogado Antonio Carlos Rodrigues (Toninho), teve uma breve passagem pelo clube.  Nessa época,  o grupo fazia um rodizio de bares e restaurantes da cidade – a  cada sexta feira num determinado lugar –.  No ano de 2006, O Luiz, um dos fundadores, por razões que a própria razão nem sempre explica, deixou o grupo.

Em 02 de agosto do mesmo ano, o Fuad, então com  90  anos de idade, depois de mais de uma década e meia  de alegre convívio, veio a falecer, deixando em seu lugar enorme saudade até hoje sentida. Ele tinha orgulho de dizer que tivera a iniciativa de trazer para Catanduva os bonecos gigantes iguais aos que desfilavam no carnaval de Olinda.   No  final daquele  ano, o Valdenir Rossi(Val),  passou a integrar o clube e, em seguida, em  2008,  o João Roberto Gimenes Lopes.

O grupo de amigos, cada vez mais próximo, coleciona memoráveis viagens pelo Brasil e até mesmo para a Europa em 2010,  no aniversário de 60 anos deste colunista. Nesses encontros que, desde 2013, passou a ocorrer no restaurante Castellana (também conhecido como Pamplona), sempre regado à chopp, cerveja ou vinho tinto,  fala-se de tudo –  de politica, de futebol, de coisas da cidade e até mesmo problemas pessoais de cada um –. A cada encontro o grupo sempre encontra uma solução para o Brasil, mas no dia seguinte vem o governo e escangalha tudo! O grupo fez também alguns trabalhos sociais e dentre eles, a iniciativa de ter sido uns dos primeiros a atender cartinhas direcionadas ao Papai Noel e entregues ao Correio, além de ter proporcionado ajuda de custo,  por dois anos,  a um estudante pobre de Catanduva (hoje profissional bem sucedido numa multinacional alemã),  que cursava química na UFSCAR e, cuja iniciativa deu origem ao projeto “Bola de Neve”,  encampado pelo  Rotary Club de Catanduva Norte.

No final de 2011, o empresário do ramo da construção civil  Francisco Fernandes, passou a frequentar o clube como auto convidado, mas, infelizmente, o grupo pode privar da sua amizade por pouco tempo eis que faleceu tragicamente num acidente aéreo no Rio de Janeiro,  no dia 21 de agosto do ano seguinte. Ele tinha uma  frase célebre ao brindar o primeiro gole de cerveja –  “que as nossas esposas nunca morram viúvas” –. Nesse mesmo ano o Antonio Alonso(Toninho), começou a prestigiar esporadicamente o clube. Apesar de não ser assíduo, participa de todas as viagens. A próxima já está programada para Salvador no mês de junho para assistir três jogos da Copa América, como tem sido nas últimas três edições desse torneio e também nas últimas Copas do Mundo.

Ano passado,  o Nelson deixou o grupo e,  neste início  de ano o Zezé Bueno, está entrando no racha da conta. Mas, como nem tudo são flores,  neste último dia 18, O Luiz, contando com 75 anos  que, há 13 anos não mais  participava dos encontros, deixou a todos em definitivo, fazendo a sua viagem final. Apesar dos anos de distanciamento, todos os atuais componentes se fizeram presentes para lhe dar o último Adeus, fiel ao compromisso dos amigos de dividir as alegrias e compartilhar a dor. Com o seu jeito franco, às vezes até em demasia, quando alguém estava na pior o Luiz costumava  lembrar  o célebre adágio português – “não há bem que sempre dure, nem mal que nunca acabe” –.

É compreensível que, com o passar do tempo, as pessoas mudam e é sabido que a natureza humana é muito complexa, entretanto,  alguns valores são imutáveis como a amizade, a confiança, a compreensão,  a tolerância e a solidariedade. Depois de 40 anos, o mundo não é o mesmo, mas agradecer é a melhor forma de render homenagens ao Serginho, hoje gozando merecida aposentadoria,  e ao Luiz, que está em outro plano  por,   juntos com este colunista,   fundar o  “Clube do Bolinha”,  permitindo que os atuais componentes, Germano, Wilson, Paulinho, Roberto, Val, Toninho, Zezé Bueno e este colunista, continuem a dividir, em todas as sextas feiras, além da conta, mas principalmente  as  alegrias que só os amigos conseguem,   porque, o verdadeiro amigo é aquele que, nos momentos difíceis,  chega antes e não se vai, mesmo quando todos se foram.

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