Caijá

Retratar seres humanos sempre é um desafio. Quando a jornada visual inclui lidar com povos indígenas, enfoques ligados à ancestralidade dos povos originários devem ser levados em conta. Não se trata apenas de realizar a representação de um corpo, mas de lidar com uma história plena de dores e apagamentos.

Helenita Teixeira enfoca o tema com delicadeza. Além de questões meramente técnicas, há um tópico sempre a ser lembrado que é o respeito. Isso se dá não somente na criação dos rostos, mas em tudo que a envolve, como os adornos, por exemplo. Cada elemento apresentado tem características próprias e simbólicas de formas e de cores.

Saber lidar com essas nuanças demanda estar atento, no processo criativo, a uma reflexão essencial: pintar é mais do que dominar certos recursos visuais. Constitui um caminhar por um universo de procuras existenciais. Construir a imagem do outro é, de alguma maneira, erguer a própria jornada.

Isso significa que as obras que a artista realiza são uma maneira de dialogar com o mundo. Conversam com a tradição, mas não estão isentas de contemporaneidade, pois o universo indígena é essencial pelo respeito às tradições do passado, entendimento da situação presente e discussão de caminhos futuros dos quais a arte pode participar.

Oscar D’Ambrosio
@oscardambrosioinsta
Pós-Doutor e Doutor em Educação, Arte e História da Cultura, Mestre em Artes Visuais, jornalista, crítico de arte e curador.

Helenita Teixeira – Caijá – acrílica sobre tela – 50 x 40 cm