Café em cápsula

 

Nesses dias mais frios é muito gostoso e confortante saborear um café bem quentinho e, de preferência feito na hora.

O café, além de ser a bebida mais consumida no mundo, é sinônimo de fraternidade, amizade e aproximação das pessoas. Tanto é fato que, quando se quer convidar alguém para visitar a residência ou mesmo local de trabalho, tradicionalmente usa-se a expressão – apareça para tomar um café! –. Isso faz parte da cultura de todo o brasileiro, assim como a expressão mais moderna de “vamos tomar uma…” tem o sentido de convidar alguém para tomar uma cerveja.

O nosso país é o maior exportador de café do mundo. Só nesse ano, segundo números do IBGE, serão produzidos 2.782.289 toneladas, ou 46,4 milhões de sacas de 60 kg.

O Brasil responde por 31,3% da produção mundial e possui uma área plantada que totaliza 2,23 milhões de hectares segundo informações da Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária (Embrapa). Uma área maior que muitos países.

A exportação deve alcançar 32 milhões de sacas chegando a quase 70% do volume produzido. Ainda, assim, o país é o segundo maior mercado consumidor, só ficando atrás dos Estados Unidos que nunca produziu café. Com tanta produção e, há mais de um século liderando as exportações, o país deveria ter desenvolvido tecnologia para exportar o café industrializado e não in natura como ainda faz desde os tempos dos barões do café no final do século XIX. Infelizmente, isso não só não aconteceu, como o Brasil deve gastar US$37 milhões para importar cápsulas de café que, é mais do que o dobro do que o país deve obter com exportação do produto industrializado, que é de US$15 milhões e correspondente à apenas os insignificantes 28,9 mil sacas.

Curiosamente, os principais fornecedores dessas cápsulas são Suíça(47%), Itália(28%) e França(7%), países que não produzem um único grão da prestigiada rubiácea. Hoje a Suíça tem uma receita de exportação com café que supera os queijos e o chocolate e, está fazendo o que países como a Alemanha praticam há muito tempo, e ilustra uma das situações mais distorcidas do comércio mundial: importa a matéria-prima do Brasil, Colômbia e Vietnã, principalmente, agrega valor e reexporta ganhando várias vezes mais.

Assim, o Brasil importa um produto industrializado cuja matéria saiu daqui e retorna com um plus de mais de 700%. É isso mesmo! Assim, quando você está comprando uma cápsula do dolce gusto ou nespresso, está pagando sete vezes mais pelo mesmo café produzido aqui. Então, fica a pergunta: Porque não industrializar no país o café de qualidade que é aqui produzido? O mesmo se aplica a outras commodities, inclusive o minério de ferro que, estamos entre os primeiros no mundo em produção e na rabeira da sua industrialização.

Já passou da hora de pensarmos no país que queremos e, não no país que os nossos governantes teimam em mantê-lo como simples produtor de grãos. O resultado dessa miopia que se arrasta há décadas, eclodiu com a crise que atingiu a todos, resultando na grande massa de desempregados que atinge a 14 milhões de brasileiros que, só não é mais severa graças a competência da agricultura.

O Brasil precisa ser repensado e redesenhado em muitas áreas e isso somente será possível com governantes sérios e comprometidos com o futuro.