Basta!

Nesta coluna temos pautado em falar de pessoas e fatos, com enfoque para a nossa cidade, sem deixar de comentar sobre livros, filmes e histórias que mereçam destaque. Procuramos dividir com os leitores aquilo que consideramos interessante e que possa acrescentar algo.

Quando não temos assunto, saímos à busca de fatos novos ou esperamos que a providência divina nos inspire, e Ela não tem faltado. Assim, não usamos o espaço que nos é gentilmente conferido pelo prestigioso jornal “O Regional”, para discorrer sobre temas políticos por entender que, outros colunistas, redatores e repórteres tem muito maior competência e capacidade para tal desiderato.

Somente em uma única oportunidade nos aventuramos a discorrer sobre isso. Contudo, diante da gravidade do momento político institucional vivido no país, perplexo como milhões de brasileiros, estamos tendo a ousadia e até mesmo o atrevimento de expressar nossa indignação que, pode se resumir no vocábulo “basta!”.

É certo que ninguém pode escolher o local onde nascer, nem tampouco a família da qual é parte. Mas pode escolher muitas coisas, principalmente em que país quer viver e onde terminar os seus dias. Qualquer cidadão antenado com os últimos acontecimentos, não importa a classe social, deve estar profundamente envergonhado de ser brasileiro, quiçá, demasiadamente revoltado e, se pudesse, deixaria o país.

Milhões pensam assim e esse estado de espírito tem um peso muito ruim, criando um ambiente de negativismo e desesperança. Não se tem notícia na história contemporânea, de outro país tão permeado e dilacerado pela corrupção sistêmica como o nosso.

Nem mesmo nas republiquetas de bananas se viu a classe política quase toda, envolvida em ilícitos que vão de caixa 2, corrupção, desvios de conduta, falcatruas, negociatas, formação de quadrilha, evasão de divisas, prevaricação, traição e por ai vai… É revoltante e, a cada novo escândalo fica a pergunta – será que vem mais por aí? E o pior é que vem!!!

Se o mensalão, pela sua dimensão, deixou o cidadão estarrecido e perplexo, mal sabia ele que aquela operação, na verdade, é considerada café pequeno diante da grandiosamente e exponencialidade da “lava jato” e seus inúmeros desdobramentos. Está na hora do país ir buscar o caso-modelo de sucesso de combate à corrupção no mundo e, esse modelo pode ser o de Hong Kong.

Qualquer semelhança não é mera coincidência! Até o início dos anos 1970, Hong Kong era marcada pela corrupção sistêmica. Ia do conluio entre empresas, o sistema político e o estado, até as pequenas propinas para fazer a burocracia funcionar, livrar-se de uma multa corriqueira, conseguir uma pequena vantagem.

No setor público em geral, e no sistema policial e judiciário em particular, a corrupção era controlada por organizações criminosas. Era crime organizado. Quando a sociedade chegou no ponto de virada, onde a conivência e a tolerância se esgotaram por causa das injustiças acumuladas e da escalada do custo na vida cotidiana, criou-se uma comissão independente para combatê-la.

Em cinco anos, a macrocorrupção, política e privada, organizada criminosamente, foi erradicada. É, provavelmente, o caso mais bem sucedido de vitória sobre a corrupção dos últimos tempos. Não existe corrupção zero. Mas existe a possibilidade de reduzi-la a um grau bastante diminuído de casos isolados.

A microcorrupção também foi significativamente reduzida, tornando mínimo o risco de empresas e cidadãos serem forçados a pagar propina para obter algo do serviço público e do setor estatal. O sistema eleitoral foi parte da limpeza, na preparação para a transição que se esperava fosse do domínio britânico para uma democracia. Hoje, Hong Kong só é vulnerável às más práticas chinesas, mas fica só nisso.

Como se conseguiu avançar tanto em tão pouco tempo? O segredo pode ser resumido em cinco palavras mágicas: independência, rigor, transparência, justiça e legitimidade. Estas cinco regras, se aplicadas aqui com a mesma seriedade e tenacidade que foi empregada no país asiático, certamente poderia devolver a necessária autoestima que tanto as pessoas de bem precisam.

Enquanto isso não acontece, é preciso dar um basta, sim, dar um basta e por fim ao estado de mazelas e permissividades que tanto prejudicam o país e levam o povo a desacreditar no governo e, o que é mais funesto, também no amanhã. Então é hora de programar o basta!

Basta desse regime eleitoral que elege analfabetos como os “tiriricas” da vida que arrastam consigo outros candidatos inexpressivos para representar o povo no Congresso; basta de tolerância com políticos desonestos que não pensam no interesse público, mas sim no próprio bolso; basta do judiciário lento e paquidérmico que, após 23 anos ainda não julgou um caso emblemático de corrupção do deputado Paulo Maluf e, assim como de tantos outros milhares e milhares de políticos que, embora denunciados, são julgados após cumprir o mandato, tornando a sentença letra morta; basta de impunidade e de leis brandas que dão a certeza de que o crime compensa; basta de gravações clandestinas, sem autorização judicial, ser usada como meio de prova para induzir e incriminar pessoas; basta de bandidos terem acesso a celular nos presídios de onde comandam facções e práticas de crimes; basta do estado fiscalista que só é eficiente para exigir e cobrar impostos e o povo que se lixe; basta de obrigatoriedade do voto que é próprio de país subdesenvolvido; basta da ineficiência do estado em relação à segurança pública onde o cidadão tem que viver enclausurado e o bandido solto nas ruas; basta da precariedade do serviço de saúde, onde grande parte das escassas verbas do governo federal não chega ao doente por desvios vergonhosos e criminosos no meio do caminho; basta da educação “do faz de conta” que, não remunera a altura o professor, não oferece condições mínimas para a escola funcionar e mesmo assim diploma analfabetos; basta de insegurança nas relações de trabalho onde vale mais uma mentira do empregado do que dez verdades do empregador e que afasta investimentos principalmente internacionais; basta do estado(governo) infernizar a vida das empresas, não importa o porte, com exigência de um cem número de informações, mesmo que negativas, e imposição de pesadas multas pela falta de cumprimento de simples obrigação acessória(os contabilistas e contadores que o digam!); basta de servidores públicos(e são milhares e milhares) recebendo mais do que o teto constitucional; basta dos custos exorbitantes com verbas e benefícios do legislativo, que vão desde ajuda de custo, verba de representação, verba de gabinete, carro oficial, etc; basta de vereador receber oito mil reais por mês, mais verba de gabinete para, oficialmente, trabalhar no máximo duas horas por semana(o prefeito para dedicação exclusiva ganha pouco mais do que o dobro disso); basta de obras superfaturadas, aditivos contratuais escusos e licitações e concorrências com cartas marcadas; basta da falta de homens sérios na gestão da coisa pública; basta de tanta corrupção que dilapida o país, aniquila a esperança e corrói a alma de um povo e, finalmente, basta do cidadão sentir-se envergonhado em ser brasileiro.

Nós, cidadãos de bem, não merecemos isso!!!