Filme de suspense psicológico americano, Armadilha (2024), escrito, dirigido e produzido por M. Night Shyamalan, conta como um serial killer busca escapar de um bloqueio policial enquanto assista a um show musical com a sua filha.
Talvez o filme mais marcante do cineasta, porém seja ‘Fragmentado’ (Split, 2016) , que chama particularmente a atenção pelo fato de o protagonista ter 23 personalidades distintas que se alternam em seu cotidiano.
A narrativa ganha em dramaticidade quando ele sequestra três adolescentes. Para além da tensão que o drama traz, está uma questão de fundo que pode se tornar patológica – se já não o é.
As dimensões fascinantes da era moderna, onde as redes sociais são centrais fontes de informação e de exposição, geram uma possibilidade nunca antes vista de fragmentação e criação de personalidades. A brincadeira de poder ser o que não se é sem ninguém descobrir abre infinitas possibilidades.
Se Fernando Pessoa tinha seus celebres heterônimos, com personalidades diferentes bem demarcadas, hoje é fácil ter dezenas, centenas, até milhares mesmo delas, se a pessoa for sistemática, de perfis nas redes sociais. O que pode ser um exercício divertido de escrita, também corre o risco de esbarrar na diluição permanente entre o real e o imaginário.
É essencial discutir os componentes éticos dessa jornada, principalmente quando ocorre a interação com outras pessoas, que talvez também disfarcem ser quem são. Instaura-se uma corrente em que o fingimento e a ficção constroem uma realidade paralela, e até perigosa, pois é geralmente bem mais interessante do que aquela que a maioria julga ser real.
Oscar D’Ambrosio @oscardambrosioinsta
Pós-Doutor e Doutor em Educação, Arte e História da Cultura, Mestre em Artes Visuais, jornalista, graduado em Letras, crítico de arte e curador.