A família muito simples se mudou da pequenina Novais, sua terra natal, para a nossa cidade quando ainda ele era jovem. Depois de outros empregos, teve a sorte de iniciar a sua carreira de bancário, um dos trabalhos mais desejados na década de sessenta, no Banco Moreira Sales, que veio a ser tornar no Unibanco. Dali, incentivado pelo irmão José Arnaldo, deu inicio à sua trajetória de empresário no ramo de fotografia, que foi extremamente interessante até o surgimento das câmeras digitais no final do século passado que, por sua vez, tiveram um curto reinado, já que acabaram perdendo espaço para os celulares.
Nada disso passou incólume aos seus olhos, que procurou acompanhar de perto a evolução do ramo de fotografias adaptando suas lojas para a demanda de serviços que o mercado buscava e investindo em outras atividades. Empresário bem sucedido, sempre priorizou a família e tinha orgulho dos filhos e dos netos. Nos últimos tempos, tornou-se mais presente e inseparável do que já era da esposa Lurdinha, carinhosamente “Lulu”, acompanhando-a no tratamento a que ela se submetia há alguns anos no hospital Sírio Libanês.
A última viagem a São Paulo realizada no final do mês passado, foi com essa finalidade. Ambos, apesar de vacinados com as duas doses contra a COVID, acabaram se contaminando nessa viagem e internados no mesmo hospital. Depois de muitos dias de UTI, uma infecção decorrente dessa doença acabou interrompendo sua vida de 75 anos. São paulino da gema, paixão que legou aos filhos, era capaz, nos bons tempos, de fazer um bate e volta para São Paulo, junto com o seu amigo Eduardo Costa (que já mora no céu há algum tempo), para assistir o tricolor. A bandeira do seu clube de coração cobria a sua esquife como última homenagem.
Amigo de muitos, construiu avenidas e pilares de amizades e gostava de viajar, além, é claro, de curtir a família. O fato de ser bem sucedido na vida empresarial não o fez diferente nem tampouco soberbo. Ao contrário, pois além de conservar os velhos amigos, muitos dos tempos de mocidade, estreitou laços com outros de novas gerações. Foi presidente do Grêmio Esportivo Catanduvense, do Rotary Club de Catanduva Norte e fazia parte de outros grupos de casais. No mês de setembro de 1999 eu, Celinha, ele e Lurdinha, fizemos uma longa viagem passando por Portugal, Espanha e finalmente Paris. Em Lisboa, Lurdinha escolheu com muito carinho e sem parcimônia a boneca de porcelana, presente para a primeira neta Ana Luiza, que só nasceria um mês depois. Estávamos em Óbidos, uma pequena cidade medieval a 86 km, sentido norte de Lisboa. Na época, ambos fumávamos e ele comprou um pequeno isqueiro dourado e me deu como lembrança. Eu o guardei por todos esses anos na gaveta da minha escrivaninha. Nunca o usei durante mais de duas décadas e, hoje, dia 15 que registra o seu passamento, acionei o isqueiro um pouco emperrado, é verdade, até ver a sua chama se acender para, em seguida se apagar, como o sopro da vida do amigo se apagou antes da hora combinada. O pequeno isqueiro será agora a mais importante peça de recordação e nele será gravado o dia em que me foi presenteado, pra ficar timbrado e perpetuado parte do período de uma profícua, sólida e despretensiosa amizade. Nessa viagem a Paris, Celinha lembrou que estávamos sentados num banco em frente à loja do PSG e ele contemplando a majestosa Champs-Elysees, disse: – “Quem diria hein? De Novais para Paris”!!! Ele teve a mesma sacada poucos anos depois quando estávamos estupefatos com a luminosidade dos painéis gigantes das luzes de leds na Times Square, em New York. Essa era a forma dele expressar e dividir a sua alegria ao lado de amigos que, como ele veio de lugares e famílias simples e humildes.
Aos filhos Daniel, Carla, Carina e Priscila, fica a certeza de que o Boni foi um grande ser humano e o seu maior legado é o orgulho que vocês devem se sentir por serem filhos dele. Já é conhecida a frase que, o tempo de Deus não é o tempo dos homens, por isso os desígnios do Senhor são um mistério. Quase sempre esses mistérios surpreendem e é por isso que é difícil entender toda a partida, embora todos saibam que um dia ela terá que acontecer. O ex governador Geraldo Alckmin, desde que perdeu o filho Thomaz, ainda jovem, num acidente de helicóptero, em 02 de abril de 2015, carrega consigo um santinho que costuma distribuir com a foto do filho à frente e, no verso a oração de Santo Agostinho. Essa é a oração que fica como lembrança do amigo Boni: “A morte não é nada. Eu somente passei para o outro lado do Caminho. Eu sou eu, você é você. O que eu era para você, eu continuarei sendo. Me de o nome que você sempre me deu, fale comigo como você sempre fez. Você continuará vivendo no mundo das criaturas, eu estou vivendo no mundo do Criador. Não utilize um tom solene ou triste, continue a rir daquilo que nos fazia rir juntos. Reze, sorria, pense em mim. Rezem por mim. Que meu nome seja pronunciado como sempre foi, sem ênfase de nenhum tipo. Sem nenhum traço de sombra ou tristeza. A vida significa tudo o que ela sempre significou, o fio não foi cortado. Porque eu estaria fora de seus pensamentos, agora que estou apenas fora de suas vistas? Eu não estou longe, apenas estou do outro lado do Caminho… Você que aí ficou, siga em frente, a vida continua, linda e bela como sempre foi.” Descanse em paz nos campos do Senhor, amigo Boni.
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