A palavra como ponte para o Brasil profundo

No Dia da Literatura Brasileira, celebramos mais do que livros: celebramos vozes, canções, cenas e silêncios que compõem a alma nacional.

Por Fredi Jon

Neste 1º de maio, o Brasil comemora o Dia da Literatura Brasileira. A data, escolhida em homenagem ao nascimento de José de Alencar, convida a mais do que uma lembrança dos autores clássicos. Ela nos propõe um mergulho naquilo que somos, um país moldado pela força da palavra, escrita e falada, que pulsa nas páginas dos romances, nas canções populares, nos palcos e nas telas.

A literatura brasileira, que nasceu entre o barro colonial e o grito das ruas, revelou-se múltipla e fecunda. É a ironia de Machado de Assis, a secura de Graciliano Ramos, a doçura filosófica de Clarice Lispector, a potência marginal de Carolina Maria de Jesus. Mas também é o lirismo de Cartola, o refinamento crítico de Chico Buarque, a subversão dramatúrgica de Nelson Rodrigues e o humor nordestino de Ariano Suassuna. Está nos versos de Cecília, nos cantos de Cazuza, no roteiro de um filme como Cidade de Deus, nas vozes dos saraus de rua e dos slams da periferia.

Em um país de desigualdades profundas, a literatura é abrigo e denúncia. É território de memória e reinvenção. Quando um compositor transforma dor em melodia, quando um poeta costura beleza no caos, quando um roteirista dá corpo à realidade que muitos fingem não ver, isso também é literatura. Isso também é Brasil.

Celebrar a literatura brasileira, hoje, é ampliar esse olhar. É perceber que as narrativas que nos constituem não estão apenas nas estantes, mas também nas canções de resistência, nos roteiros que viram denúncia social, nos cordéis que cruzam o sertão, nos monólogos teatrais que ainda arrepiam a alma.

Que este 1º de maio não seja apenas uma homenagem a nomes do passado, mas um chamado ao presente: ler, ouvir, escrever, encenar, cantar e compartilhar histórias é um gesto de pertencimento e transformação.

E como nos lembrou Drummond, que fez da pedra no meio do caminho um símbolo eterno: a literatura está viva. Basta abrirmos os olhos,e os livros.