A Lei Seca no Brasil é draconiana

TRAGÉDIAS – Qual é a semelhança entre a matança em Suzano e na Nova Zelândia? Nas duas uns malucos invadiram um local e atiraram a esmo matando inocentes. Porém, não é essa semelhança que eu questiono, mas a semelhança na motivação para o crime. Nas duas motivações houve ódio. E é ele que vem invadindo a cabeça dos humanos mais fracos, mais carentes, mais marginalizados pela sociedade, pela família… O ódio anda sempre com a intolerância, o preconceito, a discriminação gerando violência. Todos juntos impelem essas pessoas a massacrar seus semelhantes, inocentes que nem conhecem, mas apenas porque são diferentes deles, ou melhor, os assassinos é que são os diferentes. O ódio vem tomando conta do mundo. Não é preciso nem ir muito longe, veja os massacres nos últimos 5 anos. O mundo está ficando doente e se nada for feito a tendência é piorar desencadeando uma matança global. Urge tomar providências, fazer alguma coisa. É preciso mudanças sérias antes que seja tarde demais.

DESTRAVAR – Já comentei aqui que o orçamento federal é engessado, graças a Constituição que obriga o governo a reservar 91% do orçamento a despesas obrigatórias. Sobra 9% apenas para o governo aplicar em obras. É por isso que a infraestrutura do Brasil é capenga, entre outras coisas. Já viu alguma obra inaugurada pelo governo, já foi anunciada uma obra importante? NÃO! Paulo Guedes pretende destravar o orçamento. Vai enviar ao Congresso uma PEC – Projeto de Emenda Constitucional – para mudar a Constituição e quebrar esse gesso dando mais flexibilidade orçamentaria ao governo. Se essa PEC e a reforma da previdência forem aprovadas, o Brasil poderá crescer mais do que o raquítico 1%.

ENFIM PRENDERAM – Um ano depois a polícia do Rio prendeu dois suspeitos de terem matado Marielle Franco: um ex policial expulso da polícia e um policial aposentado, todos os dois com uma vida incompatível com suas rendas. Segundo o delegado, é apenas a primeira fase, há muito ainda por fazer. Por exemplo, qual foi a motivação do crime, há outros envolvidos? Quem está por trás? Pela frente devem ser os dois presos. Muitas perguntas e poucas respostas. Depois de relatos de testemunhas a polícia civil passou a monitorar os caras em outubro. O autor dos disparos pesquisou na internet formas de ocultar o crime e comprou alguns equipamentos para isso. E de fato não cometeram nenhum erro. A polícia descobriu de onde o carro dos criminosos saiu e o trajeto até ao local em que estava Marielle, graças a radares de trânsito câmeras de segurança. Os suspeitos ficaram umas três horas dentro do carro para não serem reconhecidos por testemunhas e por câmeras. A polícia usou novas técnicas digitais e de investigação para chegar até aos suspeitos. A caçada continua.

PREGOS – Um português abre uma filial de sua fábrica de pregos em Roma. Para divulgar seu negócio utiliza outdoors com uma figura de Cristo pregado a cruz e o texto: Pregos Garcia 2.000 de garantia. Foi um reboliço. O bispo de Roma foi conversar com o portuga e explicou que era pecado, um desrespeito a Jesus, pediu para mudar o outdoor. Então Manoel… Sim, já viu português não chamar Manoel? Sim, já vi, chama-se Joaquim; fez novo outdoor: uma foto de Jesus com uma das mãos pregadas na cruz e a outra solta dando tchau e o texto dizia: adivinha qual mão não foi usado o Prego Garcia? Dessa vez até o Papa quis falar com Manoel, Chamou-o ao Vaticano: “Meu Deus do Céu! Que heresia meu filho. Não se pode usar Cristo como garoto propaganda. Inventa outra coisa e retire isso já!” Manoel foi para casa e pensou.., pensou… E dessa vez fez um outdoor sem Jesus. Pôs uma foto apenas de uma cruz, sem nada, e o texto: Se o prego fosse Garcia, o gajo não fugia.

PENSE BEM – A Lei Seca no Brasil é draconiana. Uma ou duas inocentes latinhas de cerveja pode arrasar seu bolso (e você) se for pego no bafômetro. Em outros países há mais tolerância para quem bebe, que varia de país para país.  Portanto meu amigo, quando beber e voltar para casa dirigindo, se te pegarem no bafômetro, vai se ferrar bonito. Primeiro que vai em cana. Depois multa: 2.934,70; guincho: 255,00; estadia do carro no pátio 41,00 por dia; fiança para ser solto: 1.500,00; custas judiciais do processo: 5.000,00; Total: 9.730,07. Pense bem antes, uma noitada pode custar 100… 200,00. Combine uma carona, ou descole uma. Senão volte de táxi, Uber, metrô, ônibus, a pé…

CRISE DOS LIVROS – 2018 foi um péssimo ano para quem gosta de livros: fechamentos de lojas, dívidas medonhas, demissões, menor número de lançamentos… Um caos! As duas maiores redes de livrarias, a Saraiva e a Cultura entraram com recuperação judicial, devem mais de 200 milhões às editoras. Por outro lado, nunca se leu tanto, como isso é possível? Assim ó: decisões estratégicas equivocadas, planos de expansão exagerados, gestão pífia, e o principal: modelo de negócios ultrapassado em tempos de internet. Era uma tragédia anunciada.

GURUFIM – Aposto que ninguém sabe o que é gurufim. Explico, talvez você pode querer um gurufim quando for chamado lá em cima. Gurufim, palavra de origem africana, do povo bantu, é uma festa, realizada para a pessoa que morre, ou seja, o anfitrião é o próprio morto. Parentes, amigos, vizinhos, pessoas ilustres e até desconhecidos que passam em frente são convidados a participar da festa. Vão comer, beber, dançar, rir, celebrar, divertir, tudo para homenagear o defunto. É uma tradição trazida pelos escravos e que sobrevive até hoje, principalmente no Rio. Devido a presença do morto é confundido com o velório da tradição católica, onde convenhamos o gurufim é bem mais animado, sem choro, nem vela. Uma vez escrevi um conto em que o personagem, já no final da vida, dizia que não queria tristeza, velas, choros, coroas. Queria festa, música, alegria… Exatamente como o gurufim. E eu nunca tinha ouvida falar em gurufim, nem imaginava que havia festa para defunto. Taí! Pronto! Quero um gurufim quando eu bater com as dez.

CORRIDAS – Nos anos 1960 vi algumas corridas em Interlagos. As duas mais famosas na época eram as Mil Milhas Brasileiras e as 24 Horas de Interlagos. Eu morava em Santos nesses tempos. Um de nossos amigos, já maior de idade, alugava um ônibus e depois dividia o valor entre nós. Talvez tenha sido em 1965… 66, fomos ver as Mil Milhas Brasileiras, prova de longa duração. 30 moleques com idade média de 17 anos, era obvio que havia bagunça e muitos aprontos. Um deles, lembro bem. Na madrugada tinha muitos que ficavam no ônibus dormindo. Beto, um gozador, chegou até o Marcão, que dormia de roncar e começou a chacoalhar ele: “Marcão, acorda Marcão, acorda…” Ele abre os olhos sem entender nada e Beto diz: “Ó, o Luís queria te acordar e eu não deixei tá! Pode continuar dormindo”. O Marcão quis matar o Beto, que saiu correndo de dentro do ônibus. Naqueles tempos Interlagos não tinha segurança nenhuma para pilotos e público. Havia uma arquibancada de madeira em frente aos boxes; ao longo da pista o acostamento era precário, com mato e não tinha guard rail. Não havia seguranças e nada impedia que loucos, como nós, resolvesse andar na beirada da pista e no mato, pelo circuito que na época tinha 8 quilômetros.

EMERSON – Lá pelas 11 da noite eu e a turma do agito – os outros ficavam na arquibancada ou iam dormir mais tarde como o Marcão – fomos dar nossa andada na pista. Uma loucura! Se um carro saísse fora numa curva pegava a turma toda. E quem pensava nisso? Estávamos caminhando na lateral vendo os carros passarem a 2 metros de nós, a quase 200 por hora, quando um deles vem rastejando até encostar próximo de nós, com duas rodas na pista e as duas outras fora dela. Era o Karman Ghia Dacon, motor Porsche, de Emerson Fittipaldi. Ele desce do carro, nos vê aproximando, e sem mais, pede para nós colocarmos o carro no “acostamento”. Saiu correndo até os boxes pedir ajuda, que por sorte estava perto. Alguém precisava entrar dentro do carro, virar a direção e destravar o cambio que estava engatado, enquanto os outros empurravam. E esse alguém fui eu. Ficamos lá até o Emerson voltar, mas infelizmente ele estava fora da corrida. Agradeceu-nos e quando soube que fui eu quem entrou no carro disse obrigado e me deu um aperto de mão. Foi a glória para mim. Entrar no carro dele, pegar no volante, câmbio e ainda ganhar um aperto de mão… O pessoal dizia que eu ia ficar sem lavar a mão um tempão. Curiosidade: alguns amigos que estavam comigo nesse dia tenho contato com eles até hoje e são leitores do Café Minuto.

CINEMA – Dois bons filmes nacionais baseado em peças de dois de nossos melhores dramaturgos. O primeiro é Rasga Coração, de Oduvaldo Vianna Filho, o Vianinha, que já foi encenada muitas vezes e até hoje não conseguem rasgar o coração. A história, em três décadas distintas, foi adaptada para o cinema nos tempos atuais. Conta o conflito de relação entre pai e filho. O pai era militante de esquerda na época da ditadura, hoje seu filho leva uma vida alternativa: pinta as unhas de verde, usa saias, é vegano e é ativista de um grupo que contesta as censuras na escola. O segundo, também com várias encenações e filmes, tem estreia na direção do global Murilo Benício, que foi muito elogiado. Mostra um homem atropelado, moribundo, que pede para ser beijado na boca. O gesto é presenciado por um repórter de jornal sensacionalista ganhando repercussão. Em casa, a mulher do cara que deu o beijo passa a duvidar de sua sexualidade, após insinuações maldosas de seu pai. Dois bons programas.