O cenário e a imagem da neve caindo sobre os telhados das casas típicas e deslizando suavemente sobre as árvores das florestas, retratam cenas memoráveis do que há de mais belo produzido pela sétima arte. As belas paisagens gélidas da Rússia enternecidas com a suavidade melódica da inconfundível música, fazem de “Dr. Jivago”, de 1965, um dos maiores, mais premiados (5 Oscars e 4 Globos de Ouro) e mais lembrados filme da história do cinema.
Conhecida como “Tema de Lara”, o nome original era “Somewhere, my love”(Em algum lugar, meu amor), foi criada pelo gênio Maurice Jarre (Lyon/França, 13/09/1924 – Malibu-Los Angeles/EUA, 28/03/2009), que se notabilizou, por mais de cinco décadas, como compositor de trilhas sonoras de filmes que se tornaram míticos e fizeram a história do cinema: “Lawrence da Arábia” (1962), “Doutor Jivago” (1965), “Passagem para a Índia”(1984), “A filha de Ryan”(1970), “O tambor”(1979), “O ano em que vivemos em perigo”(1982), “Mad Max 3″(1985), “Atração fatal”(1987), “A testemunha”(1985) e “Ghost”(1990).
Maurice foi vencedor de três Oscars, quatro Globos de Ouros, dois BAFTA, Grammy, ASCAP, além de uma estrela na calçada da fama em Hollywood Boulevard. Precisa mais? Compôs mais de 160 partituras cinematográficas para grandes diretores como John Frankenheimer, Alfred Hitchcock, John Huston, Luchino Visconti, Peter Weir e era pai de Jean-Michel Jarre, pioneiro da música eletrônica. Dizem que o “Tema de Lara” foi inspirado em Tchaikovsky e, é bem possível que realmente tenha sido. Trata-se de uma música maravilhosa, composta especialmente para a personagem vivida, no filme, por Julie Christie, em plena época da chamada “Guerra Fria”, quando pouco se sabia sobre a Rússia. Foi baseado na obra “Dr. Jivago”, de Boris Parternak.
A obra chegou ao ocidente pelos caminhos da espionagem e descrevia os tempos difíceis da implantação do socialismo na Rússia. Pasternak, com o seu livro, foi o escolhido ao prêmio Nobel de Literatura, em 1958, entretanto, teve que renunciar por conta da pressão recebida e ameaça de exílio por parte do governo soviético. A Rússia possui outros dois prêmios Nobel, em Literatura. “Dr. Jivago” só foi possível ser exibido na Rússia depois do fim da guerra fria(Glasnost e Perestroika), quando, então, pode ser visto e avaliado pelos russos. Os soviéticos o criticaram por não retratar fielmente à época, citando, como exemplo que a balalaica não era um instrumento da classe mais abastada e que, casas comuns não tem abóbodas arredondadas.
Coisas como essas, que não mudaram a essência e, muito menos, a magia do filme. Eles até refilmaram a história segundo seu ponto de vista deles, mas a refilmagem definitivamente não atraiu e passou despercebida no ocidente que se manteve fiel à versão original. Muita ousadia deles, não é mesmo? Ouvir o som da balalaica(instrumento de 3 cordas, típico da Rússia) e de orquestras executando a genial criação do compositor e arranjador francês, é um deleite e um bálsamo para a alma. Pena que os anos sessenta não voltam mais! Pena que, compositor com o talento de um Maurice Jarre, só surge um a cada século e pena que não se produzem mais, música como “Tema de Lara” e filme como “Dr. Jivago”.
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