Algumas pessoas estão buscando conquistar suas almas, outras dizem que estão buscando reconquistar suas almas, porém em meu modo de perceber “uma pessoa”, nenhuma das duas colocações faz sentido para mim. “Lá no fundo” não acredito que a alma tenha que ser conquistada, muito menos reconquistada, e vou explicar meu ponto de vista.
Percebo o Ser Humano como um Sistema Vivo constituído por três “corpos”.
Um “corpo” físico, material, mantido e movimentado pela energia adquirida através dos alimentos, da água e do ar (oxigênio).
Um “corpo” mental, mantido e movimentado pela energia adquirida através dos “processos mentais” (pensamentos, idéias, lembranças, imaginações, sonhos).
Um “corpo” emocional, mantido e movimentado pela energia adquirida através dos sentimentos.
Percebendo assim, o Ser Humano é um Sistema Vivo composto por esses três corpos, um dependendo do outro, não existindo sem o outro.
Mas o corpo físico não pensa; então o que o move?
Ele apresenta três tipos de movimentos:
-movimentos reflexos (neurológicos/materiais) que o fazem mudar de posição, desviar-se de objetos ou insetos voadores, equilibrar-se, e o avisam sobre necessidades básicas materiais: comer, beber, dormir, respirar, evacuar e urinar.
-movimentos voluntários e conscientes: fazem o corpo movimentar-se em direções específicas buscando objetivos específicos, sob as “ordens” do corpo mental.
-movimentos involuntários e inconscientes, mais sutis e “leves” (expressões e posturas), sob o comando do corpo emocional.
Contudo, se houver uma lesão material (neurológica, músculo-esquelética, etc) esses movimentos podem se tornar inviáveis mesmo que seus corpos mentais e emocionais estejam perfeitos. Se essa pessoa não for atendida por outra, ela morrerá.
Mas o corpo mental não possui matéria; então o que o move?
Ele se movimenta pelos “processos mentais”, mas, se o corpo físico não estiver perfeito para atende-los, se essa pessoa não for atendida por outra, ela morrerá.
Mas o corpo emocional não possui matéria, então o que o move?
Ele se movimenta pelas emoções, mas, se os corpos mental e físico não estiverem perfeitos para atende-los, se essa pessoa não for atendida por outra, ela morrerá.
Mas, e a alma (espírito?)? Em que corpo está? Onde está? Como percebe-la? O que a alimenta? Qual a sua função? Que tipo de movimentos ela comanda?
A alma é mais que a matéria, mais que a mente, mais que o sentimento, mais que uma energia; não está em nenhum dos corpos; existe numa dimensão de cada pessoa que transcende seu passado, seu presente, seu futuro, seu espaço; não pode ser percebida com nossos sentidos físicos (visão, audição, tato, olfato e gustação), nem mentais (pensamentos) e nem emocionais (sentimentos).
O alimento da alma de uma pessoa é o que essa pessoa faz por ela, pelas outras e pelo ambiente; a missão da alma é garantir a cada pessoa o livre arbítrio, e, quando a pessoa morrer aqui, representa-la perante o Criador. A alma comando o movimento do viver, que transcende o que chamamos de vida, pois a alma é o efeito do Criador em cada um.
Nossas emoções, nossa intuição, nossos sonhos, são resultados das ações dos movimentos dos nossos corpos físico, mental e emocional, são frutos de considerações culturais, éticas, religiosas, pessoais, todas totalmente daqui, nada tem a ver com a alma, são resultados de análises racionais, lógicas e estritamente dentro de crenças e valores sociais e pessoais.
Uma emoção que é considerada pura para uns é impura para outros; um pensamento considerado iluminado num lugar, num tempo, é considerado das trevas em outro momento, até mesmo nesse lugar.
Dizer que a habilidade de amar seja diferente da habilidade de andar de bicicleta é desprezar o Criador, é dizer que Ele discrimina. Toda habilidade é fruto de treinamento, muito treinamento. Lembremo-nos do livre arbítrio.
Quando alguém ama, ou sofre, ou escolhe não amar, a alma apenas registra o que a pessoa está fazendo por ela, pelo próximo, pelo ambiente.
O mundo dos espetáculos, do poderio econômico, dos massacres, das mentiras, dos políticos, das banalidades, dos computadores, do desperdício, das religiões, das doenças, dos remédios, da futilidade, das traições, dos paradoxos, da banalização do ser humano, é totalmente criação do homem, da sua vontade, resultado e efeito do que ele pensa e sente, e do valor que dá para si, para o próximo e para o ambiente.
É tudo decorrência das crenças e valores que constituem a sua personalidade e lhe dizem o que fazer e o que não fazer, porque, pra quem, e, o que mais ele quiser, se quiser.
Falar em resguardar a alma, em conquista-la ou reconquista-la, pelo meu modo de perceber a Alma pode ser até interessante como instrumento “maior” para tentar estimular o homem a conscientizar-se dos seus atos, mas nada tem a ver com a sua Alma. Mesmo a Alma de um político corrupto, de um serial killer, de um falso religioso, estará sempre intacta, imaculada, pura, perfeita, segura e conectada ao Criador.
Importante considerar, uma vez que estou escrevendo este artigo “sobre” outro artigo intitulado “A perda da Alma”, excelente, de Julia Kristeva, que em nossa experiência humana vivemos em diversos níveis neurológicos, onde cada um apenas organiza o outro,e diga-se de passagem, esses níveis são apenas didáticos. Mas, perceba o que eles nos permitem apreciar:
O eu, o você, a pessoa, o ser humano, é a somatória de tudo o que o seu “Sistema Vivo” percebe, faz e escolhe. Endereço, CIC, carteira de identidade, estado civil, idade, profissão, cor, raça, partido político, time, religião, nacionalidade, conta bancária, classe social são apenas referências, só importam no ambiente onde você estiver, nada tem a ver com a Alma.
Mais interessante do que buscar “conquistar” a Alma, busque conquistar-se, busque identificar-se, responsabilizar-se, busque ser, aí sim sua Alma poderá ter o que apresentar ao Criador no momento certo, quando for convocada a apresentar “ o que você fez por você, pelos outros, e pelo ambiente”.
É impossível conquistar a Alma, pois Ela nunca foi nem será perdida. Já, quanto a você, tudo pode ser feito