Brincadeiras de infância costumam ser maneiras de reconexão, seja com o próprio “eu” ou com a sociedade como um todo. A obra de Samuel Cruz (@samuelcruzartepapel) que enfoca o jogo de amarelinha, por exemplo, tem essa capacidade de retomar memórias afetivas.
Acredita-se que o jogo seja de origem romana e que tenha surgido como uma adaptação para crianças de treinamento de soldados. A brincadeira teria sido resgatada pelos franceses – inclusive o nome no Brasil vem da corruptela sonora da palavra “marelle”, a pedrinha usada para marcar as áreas, que teria resultado em “amarelo” e “amarelinha”.
Trazido provavelmente pelos portugueses, o jogo tem um simbolismo associado à passagem pela vida. Por isso, tradicionalmente, em uma de suas pontas costumava se escrever “Céu” e, na outra, “Inferno”. O trabalho de Samuel Cruz, portanto, resgata essa história a partir de sua matéria-prima, o papel.
A sua obra como um todo constitui uma procura permanente por soluções visuais que exploram o papel jornal para dar vazão a sua liberdade criadora, dando espaço a uma originalidade que permite, simbolicamente, pelas criações visuais propostas e realizadas, atingir o Céu da existência.
Oscar D’Ambrosio @oscardambrosioinsta
Pós-Doutor e Doutor em Educação, Arte e História da Cultura, Mestre em Artes Visuais, jornalista, graduado em Letras, crítico de arte e curador.