Batume” – primeira exposição que se debruça sobre a série Mel, iniciada em 2023 – recebe este nome pela relação de construção de divisórias de barro e cera que originam o geoprópolis, alquimia natural do mundo único e enigmático das abelhas. Surge assim a metáfora de um conjunto de obras que constitui uma prática aliada a conceitos ambientalistas, porém de cunho e olhar artístico.
Para a criação das obras, foi pesquisado o ciclo das abelhas – que possuem elementos opostos, como o ferrão com veneno e a doçura do mel – e a ligação delas com as flores, as rochas e as árvores. Além disso, a madeira utilizada esteve submersa no mar e em rios do manguezal litorâneo, sendo trazida para a terra pelo movimento das marés.
A relação com o mundo das abelhas pode ser um território nada acolhedor, como a doçura do mel, pois submerge como as próprias madeiras o resgate de memórias que trazem uma relação do próprio medo da artista em relação à morte, devido à reação alérgica ao veneno de abelhas.
Esse sentimento inclui a lembrança de quando, à beira-mar, foi picada, pela primeira vez, cena que criou e ressignificou traumas de seu inconsciente. A artista interage então sobre as madeiras com mel e outros materiais, como metais, minerais, resina vegetal e pigmentos naturais. Nesta exposição, a geometria dos alvéolos, arquitetura biológica das abelhas, torna os favos uma corrente simbólica presente em todas as obras.
Portanto, “Batume” mescla recordações pessoais com aspectos de proteção ambiental. Traz a magia do mel, a disseminação do pólen e a força da própolis, assim como entrelaçamentos com a destruição da natureza, evocando um luto ambiental tanto para o sofrimento das árvores como para o possível desaparecimento das abelhas.
Oscar D’Ambrosio @oscardambrosioinsta
Pós-Doutor e Doutor em Educação, Arte e História da Cultura, Mestre em Artes Visuais, jornalista, graduado em Letras, crítico de arte e curador.