Quando a palavra encontra Van Gogh

O poeta russo naturalizado estadunidense Joseph Brodsky disse que “a poesia é um espírito que procura carne, mas que encontra palavras”. A reflexão vale para o filme argentino “Goyo” (2024), dirigido por Marcos Carnevale, disponível na plataforma Netflix.

O protagonista, cujo apelido intitula a obra, é portado da síndrome de Asperger, transtorno de desenvolvimento que afeta a capacidade de se socializar e de se comunicar de maneira tradicional. Trata-se de um estado do espectro autista que pode levar a interações sociais pouco comuns e a ter interesses muito específicos.

O protagonista, fã de Van Gogh, trabalha como guia no Museu de Belas Artes da cidade de Buenos Aires e tem a sua rotina transformada quando conhece Eva, nome bíblico muito significativo, uma recém-contratada guarda de segurança do museu, que está em processo de separação do marido e cuida de seus dois filhos.

Uma das principais cenas ocorre quando Goyo a convida para jantar perante uma obra do pintor holandês. Como alerta Brodsky, naquele instante as palavras são o cerne de um diálogo que, de certa forma, resume os acontecimentos anteriores e aponta os futuros. Na arte e na vida, a fala encerra segredos e abre portais.

Oscar D’Ambrosio     (@oscardambrosioinsta)
Pós-doutor e doutor em Educação, Arte e História da Cultura, mestre em Artes Visuais, jornalista, graduado em Letras, crítico de arte e curador.