As cores são uma maneira de penetrar nos mistérios das pinturas de Fernando Correia. Elas costumam ter tons elevados e dialogam com formas humanas alongadas que fazem pensar sobre a existência como ato orgânico e fluido, mas igualmente interrogador em que a lógica cartesiana cede espaço a um fazer simbólico.
Embora o cotidiano seja um ponto de partida, ele é apresentado artisticamente com muitos segredos. As cenas não trazem o óbvio do dia a dia, mas aquilo que está escondido em uma perspectiva que traz um permanente movimento. É instaurada uma sinfonia pessoal de gestos do pincel que alerta como o detalhe e o conjunto dialogam.
As criações do artista não são definitivas interpretações, mas o início de poéticas visões. Trata-se de um pensar que aponta para uma tridimensionalidade espacial e para uma densidade de luzes quentes. Há um olhar sobre o urbano que se realiza como uma ode de amor à vida em suas facetas existenciais mais viscerais.
Seus personagens sem rosto lembram que imagens pictóricas são realizadas de tinta. Olhar cada uma de perto revela a perspectiva técnica do ato do fazer e, de longe, proporciona a reflexão sobre temáticas universais em que cada cena constitui um sutil fragmento de um mundo do qual se pode tentar fugir, mas para onde a arte, quando realizada com potência, nos traz de volta.
Oscar D’Ambrosio
@oscardambrosioinsta
Pós-Doutor e Doutor em Educação, Arte e História da Cultura, Mestre em Artes Visuais, jornalista, crítico de arte e curador.