A obra de Waldomiro de Deus apresenta, como elementos unificadores, as cores vivas, a imaginação, a estilização, a ausência das proporções ditadas pelas academias e um poder de síntese muito peculiar. Ela brota, com admirável força, do inconsciente coletivo e conquista pela maneira de articular as composições.
Diversificado em termos de temática e rico em soluções visuais para os problemas que a pintura coloca, as opções plásticas do artista baiano constituem um caminho a ser seriamente discutido como alternativa as tendências que dominam a arte brasileira, muitas vezes vindas do exterior.
O artista inclui assuntos sociais, ambientais e existenciais, pois consegue se manter atual pelo fato de nunca se conformar com a realidade circundante. Conserva, assim, a dinâmica de uma antena parabólica com o poder de receber mensagens do mundo, absorvendo-as e irradiando-as, naquilo que chama de “luta da vida”.
Quando Waldomiro discute sua preocupação com o meio ambiente, raciocina, na verdade, sobre o estado do mundo e como a vida contemporânea está cada vez mais marcada pela perda de valores essenciais à vida, como a convivência com a natureza e com a família, ameaçadas desde o desmatamento às drogas.
Nascido em 12 de junho de 1944, em Itajibá, sul da Bahia, Waldomiro, chegou como migrante em São Paulo e frequentou a movimentada Rua Augusta dos anos 1960. Viajou para a Europa e Israel e chegou a morar numa casa enorme com um caixão mortuário em Osasco, SP, onde dormia.
As cores, temas, simbologia e religiosidade encantam. O cotidiano, em última análise, sempre foi a sua grande matéria-prima, embora também tenha levado para a tela planetas imaginários e imagens absolutamente originais, como fictícios astronautas brasileiros na Lua, nos anos 1960.
A versatilidade de Waldomiro surpreende. Começou retratando o folclore e passou por foguetes, críticas sociais, planetas, peixes e flores. Há imagens sensuais e erotismo, assim como pureza e encantamento de namorados. Tudo é motivo para exibir uma técnica que desenvolveu em oito décadas de resistência existência.
Oscar D’Ambrosio
@oscardambrosioinsta
Pós-Doutor e Doutor em Educação, Arte e História da Cultura, Mestre em Artes Visuais, jornalista, crítico de arte e curador.