Markora tem sua obra selecionada para Milão

O artista Markora, tem suas obras apresentadas com exclusividade em São Paulo pela da Marcelo Neves Art Gallery, onde o Galerista e Curador Marcelo Neves administra sua carreira não só no Brasil como internacionalmente, com exposições em Miami, New York e Paris. Agora Markora (Codinome de Marcos Silva) estará apresentando uma de suas obras na Galeria Milanese em Brera / Milão entre os dias 16 à 22 de maio de 2022 numa importante mostra “L”Arte Tutela la Natura e L”Umanita”  em parceria com as atividades e efervescência da Marcelo Neve Art Gallery de São Paulo. Markora terátambém sua obra inserida com destaque no THE BEST OF CATALOG of Italian Contemporary Art a ser distribuído aos principais estúdios de Design e Arquitetura de Milão

A exposição organizada pela Galeria Milanese em Brera / Milão tem curadoria da crítica de arte Dra. Roseli Crepaldi e apresentação do Dr. Antonio Castellana, crítico de arte e apresentador de TV no Canale Italia 126. No Brasil, a curadoria da Marcelo Neves Art Gallery vem assinada pela destacada Rosita Cavenaghi .

Saiba mais sobre o artista no texto de Roberta Benzati – (Instagram @robenzati) para a Revista Premier – Joinville – SC (Set/ 2011)

 ARTE COM TRILHA SONORA.

O ateliê desse artista plástico é bem inusitado. Seu cavalete é montado em cima de um palco e, frequentemente, é possível vê-lo expressando sua arte pela noite ao som dos melhores DJs nas baladas.

Quem costuma frequentar os bares região certamente já encontrou o pintor Markora (Codinome de Marcos Silva).

Desde o início de 2010, quando recebeu um convite de um amigo músico, ele passou a criar suas telas de um jeito bem diferente. É em cima do palco, enquanto a música toca, que ele dá vida aos seus quadros, sob os olhos atentos de toda a plateia. “É uma experiência completamente diferente, muito empolgante, e a energia das pessoas acaba influenciando na pintura”, comenta.

Mas no começo não era assim tão fácil. O artista plástico revela que ficava nervoso e até esboçava alguns desenhos antes das apresentações para não ter bloqueios criativos na hora do show.

“Agora prefiro criar as telas ao vivo mesmo e expressar o que estou sentindo naquele momento, sem planejar”, conta.

História

Para o artista plástico, nascido em Blumenau – Santa Catarina, a noite e as baladas estão muito ligadas à evolução de sua carreira. A ligação de Markora com a pintura começou na infância. Autodidata, fazia seus desenhos com tintas e papéis que o pai deixava para ele brincar. Na juventude, pintar se transformou em um verdadeiro hobby para o editor de imagens, até que seu trabalho foi descoberto pelos amigos e, com a proposta de trabalhar na balada, a pintura entrou de vez, e para ficar, em sua vida.

Inspirações

O maior ídolo do pintor catarinense é o espanhol Pablo Picasso. “Sou muito fã dos artistas expressionistas e surrealistas como Picasso, Miró, Salvador Dalí e Matisse. Eles exercem grande influência sobre meu trabalho e passo muito do meu tempo livre estudando sobre eles. trata-se de uma pintura dramática, subjetiva, expressando sentimentos humanos.”, acrescenta.

Agora, a música e a plateia também são inspirações para suas telas. “Foi uma surpresa essa proposta de pintar ao vivo e não imaginava que iria gostar tanto. Para falar a verdade, hoje eu

prefiro trabalhar assim”, revela Markora que, ao som das festas e ao lado de um vinil transformado em paleta de pintura, faz sua arte cheia de personalidade.

Markora e Marcelo Neves

O Famoso Markora

Em 2007, um pouco antes de iniciar o projeto de “Live Painting”, inspirado pelo fenômeno dos “Reality Shows” e programas como Big Brother, decidi fazer uma brincadeira com esse desejo de todo mundo querer ser celebridade e me auto intitulei “Famoso Markora”, um artista anônimo que se achava célebre. Lembro de uma entrevista que havia assistido onde um músico do cenário Pop reclamava que estava incomodado com essa coisa de as pessoas quererem aparecer sem ter nada prá mostrar, nenhum talento específico, e que essas pessoas acabavam “roubando” o pouco espaço que a mídia reservava para os verdadeiros artistas do mundo do entretenimento…rsrs

Na rede social que estava em alta na época, o Orkut, eu usava esse perfil: Artista Plástico – Famoso Markora. Era evidentemente uma piada, mas essa brincadeira acabou chamando a atenção de amigos e não demorou para que eu começasse a receber convites para festas em Balneário Camboriú: “Pra festa ficar legal temos que convidar gente famosa… Vamos convidar o Markora… O “Famoso Markora”. E a partir daí, lá estava eu nos palcos badalados da Barra Sul, presença garantida nas festas mais “hypadas” ou nem tanto assim…

O fato é que do início de 2010 até 2013 me apresentei pintando ao vivo usando esse codinome. Com figurinos inspirados em filmes do Johnny Depp (Piratas do Caribe e coisas do gênero) era uma forma de chamar a atenção e ser uma atração a mais nas baladas. Depois, quando o trabalho artístico começou a ficar mais profissional, passei a sentir um certo constrangimento de ser conhecido por essa piada e abandonei o “Famoso” passando a utilizar apenas “Markora”.

As fases

BOÊMIA
Acho que é algo bastante natural começar a desenvolver um interesse e ter como inspiração a vida boemia uma vez meu ateliê ficava instalado bem no meio da festa e dos baladeiros.

Todos os finais de semana, fosse na agitação da temporada do verão ou mesmo nas frias noites de inverno eu estava lá no palco vestindo meu macacão industrial e empunhando pincéis e tintas para mais um mix de música e arte visual.

E pela repetição dessas noites, por viver essa rotina de ter que criar sem tempo para ensaios mais elaborados eu acabava por desenvolver um olhar treinado a capturar momentos que para um simples frequentador eventual geralmente passam despercebidos.

Também a convivência com músicos e DJs, garçons, hostess e seguranças me faziam ver a arte por um prisma bem diferente do que eu estava acostumado. As conversas não giravam em torno de assuntos do meio das artes plásticas. Ninguém ali estava interessado em editais ou datas de exposições, não haviam expressões como “processo criativo” ou “movimentos artísticos”, mas nem por isso (e talvez até mesmo por isso) aquele mundo deixava de ser voltado para a arte e o desejo de se criar, de experimentar ideias. Havia ali uma excitação no ar, uma expectativa a cada noite… Era como se as pessoas estivessem mais vivas, com mais de tesão pela vida e isso sempre impulsionava meu desejo criativo.

Todos aqueles personagens da noite: Os playboys e bon vivants, as belas mulheres sempre bem produzidas, os tipos divertidos e bem falantes, uma certa aura de malícia nos olhares, o ritmo frenético dos garçons, os acenos e cumprimentos… Tudo podia ser inspiração para um registro pictórico.

Mesmo as noites menos agitadas, tinham seus momentos e seus frequentadores a protagonizar cenas dignas de registro. Haviam os bebedores solitários de expressão cuja tristeza ficava evidente com o passar das horas e a cada nova dose. Esse tipo habitual dos bares sempre rendia uma boa inspiração, eram figuras quase dramáticas no meu modo de ver. Por qual motivo estaria ali sozinho a noite toda? Que tipo de desgosto havia sofrido? Seria alguém desesperançoso da vida? Enfim… A imagem servia muito bem como tema para um quadro.

Mas também houve um tempo onde após ver e conviver com tantas pessoas eu passei a achar mais interesse nos temas inanimados, nas “naturezas mortas”. Pintei incessantemente mesas vazias com copos e garrafas. Mesas ao sol, mesas ao luar… Apenas mesas. A ausência de vida me parecia mais estimulante do que a própria vida. A falta de personagens podia ser mais intrigante e instigante para a imaginação. Fiz vários quadros assim e essa série acabou me levando a uma outra onde acrescentei cartas de baralho as cenas, mas sobre isso falarei na fase “Poker”.

EXPRESSÕES

Esses são primeiros quadros, as primeiras ideias executadas ao vivo na noite, lá em 2010. Mas na verdade acabei pintando essa temática durante toda a década, até a chegada da pandemia em 2020. Lembro que eu precisava ter ideias todas as noites, várias vezes por semana, e a primeira coisa que me ocorria eram os rostos dos quadros do Pablo Picasso, as expressões dramáticas de “Guernica” por exemplo. Personagens com a boca aberta e aqueles rostos deformados… Depois de passar a infância e adolescência tentando retratar o mundo de forma realista, a partir dos anos 2000 comecei a achar mais interessante essa coisa de não ter compromisso com a representação fiel da imagem, com o realismo. Já havia feito muitos esboços e estudos a lápis entre 2005 e 2010… Muitos personagens deformados… E percebi que isso era uma coisa que me dava mais prazer do que ficar tentando atingir a perfeição realista.

Comecei a perceber que tentar ser realista, pelo menos pra mim, era algo que fazia ser preso, parecia uma “obrigação” de ter que ser fiel a realidade. Então, comecei realmente a gostar dessa onda do “Cubismo Sintético” de você deixar a obra surgir quase que por acaso: Se a sua mão quiser mudar o trajeto de um traço… Deixe ela ir, deixe o traço livre para ir aonde ele quiser e uma vez que os traços se impuseram na tela você elabora a pintura a partir disso, a partir desse traçado “natural” e não “forçado”.

Mas eu lembro também que pintar rostos era uma forma de fazer as pessoas enxergarem os quadros a distância (os quadros não podiam ser muito grandes pra caberem nos palcos). Então pra compensar essa limitação do tamanho era preciso pintar algo que as pessoas enxergassem de longe, 10, 15 metros de distância… Imagens de 1 metro ficavam parecendo uma foto 3×4, mas ficavam compreensíveis. Outros temas nessa distância já se tornavam mais difíceis de entender e nesses primeiros anos eu precisava, ou pelo menos eu achava que precisava, ter uma conexão maior com público, precisava ser aceito. Fiz vários quadros nessa pegada, nessa onda doPicasso, que não chegavam a ser cópias, mas traziam propositalmente aquela marca registrada dos olhos desalinhados… Meio que um “Cubismo clichê” e fiz outras experimentações também.

Muitas vezes pintei personagens com a boca aberta e mostrando a língua… Línguas de cinco pontas, como se estivessem explodindo… Essa série foi feita em sua maioria quando eu estava dividindo o palco não com DJs mas com bandas de Rock. E nos shows de Rock você tem aquela coisa do vocalista estar sempre se “esguelando”: Steven Tyler da banda Aerosmith e Mick Jagger são exemplos disso. A própria logomarca dos Rolling Stones representa isso, uma boca com a língua pra fora. É muito simbólico do Rock’ Roll, daquela emoção de cantar de forma exagerada, quase desesperada, uma necessidade de gritar… Como se o roqueiro quisesse ofender o público. O Rock tem isso, uma expressão de agressão, cantar agredindo o público… E esse espírito acabava se refletindo nos quadros, uma forma de estar em sintonia com a banda. Mas haviam outras expressões também, alguns quadros que chamava de “experiência espiritual” que fazem parte de um momento em que eu comecei a tentar identificar qual era o “Espírito de cada noite”, por que tem isso, cada noite que você está lá no palco, seja com uma banda ou DJ, cada noite tem um espírito próprio, tem uma vibe… As vezes mais feliz, as vezes mais triste… Mais acelerada ou devagar… Então eu tentava colocar nas expressões o espírito daquela noite. Se as pessoas estavam mais sérias ou se estavam mais descontraídas isso iria se refletir na obra. Eu sempre pensava assim: O espírito da noite é o resultado da soma dos espíritos das pessoas que estavam ali… A soma ou a subtração, enfim, a combinação daqueles espíritos. Dezenas, centenas de pessoas acabavam por criar uma só alma. Era isso que eu tentava colocar nessas expressões. E muitas vezes poderia ser o meu estado de espírito refletido ali, mais empolgado, mais triste, dependendo do dia. Mas a maioria das noites eram muito divertidas, a praia, a música, a bebida te levam a uma inevitável felicidade.

O DJ Invade o ateliê

As tintas e a tela vibravam literalmente, tremiam no ritmo das batidas e dos grooves eletrônicos com os quais os DJs davam o tom da festa. Era inevitável que essa parceria acabasse por se tornar tema e fonte de inspiração.

Muitas noites fiz essas intervenções artísticas colocando arte visual no meio da festa. Mas naqueles momentos, em que podia sentir a força do som, me dava conta do quanto a música estava intervindo na pintura. Nessas horas enxergava a situação de forma inversa: Ali era o meu ateliê e os DJs e todas aquelas pessoas do público, eles é que estavam invadindo o meu espaço! Uma invasão muito bem-vinda! Uma grande celebração audiovisual.

Geralmente posicionado bem ao lado, dividindo o palco com várias das atrações musicais, eu tinha uma visão privilegiada, mais do que isso, eu podia trocar ideias e compartilhar emoções

de forma muito mais próxima dos “Dee Jays”. Passei a compreender seu jeito de pensar e modo de agir. Pude assistir noite após noite a dinâmica e a maestria com que conduziam o público e muito disso apliquei à arte da pintura. Quantos quadros executei ao ritmo pulsante da “Deep House” (Nome dado a uma das sub vertentes da música eletrônica), imprimindo pressão e velocidade as pinceladas em sincronia com aquelas sequências músicas contagiantes.

Cada qual tinha seu estilo preferido e sua forma diferenciada de fazer as mixagens sonoras, porém comecei a perceber que as poses, as expressões corporais eram bastante parecidas. De uma forma geral, a maioria mantinha uma das mãos controlando o par de toca discos, ou “MP3 players”, ao passo que o outro braço ficava arqueado para cima levando a outra mão a segurar o fone de ouvido. Essa pose me lembrava muito a posição das musas do pintor espanhol Pablo Picasso (Dora Maar tipicamente) que por tantas vezes o mestre do Cubismo havia representado: A clássica pose da mulher com uma das mãos próxima ao rosto. Estava ali a ideia inicial para uma série de quadros que eu iria explorar incansavelmente por vários anos.

Com base nessa pose que se repetia em muitos quadros fiz várias experiências adicionando outros elementos e cores a cena. Então vamos lá: One, two, three, four… Let’s Paint!

TOCA-DISCOS -TURNTABLES

Como a maioria dos adolescentes dos anos 80 eu cresci dentro de uma cultura de ouvir música pelo rádio e comprar discos de vinil. Sim, a única forma de ter acesso às obras de nossos artistas favoritos era essa, através dos velhos álbuns físicos.

Era… Até a chegada do Napster em 1999, quando então, maravilhados pelas infinitas possibilidades do MP3 a grande maioria de nós decidiu pôr fim aquela relação estável de décadas. O grande barato agora era baixar as músicas direto da “nuvem”. Toda e qualquer música que você quisesse estava lá, disponível instantaneamente. Pois bem, passados 4 ou 5 anos e depois de milhares de arquivos musicais armazenados em muitos Gigabits no meu PC, já não via sentido em manter minha coleção de centenas de Long Plays de vinil. Vendi tudo.

Chegamos então a 2010 e eu havia iniciado a aventura de fazer arte visual ao vivo acompanhando músicos e DJs em eventos e festas. Depois de alguns meses tentando adaptar os itens de um ateliê de pintura ao palco não lembro bem ao certo como acabei incorporando um disco de vinil no lugar da paleta. Passei a misturar as tintas sempre sobre esse suporte. Os velhos e desprezados discos estavam novamente em minhas mãos, mas a experiência sensorial agora era outra, ao invés de emitir sons esses antigos conhecidos estavam ali para misturar cores. E junto dessas cores vinham as lembranças…

Comecei a reviver em minha mente toda aquela sensação. A sensação de um ritual preparatório: Abrir a tampa do toca-discos, puxar um vinil de dentro da capa e posiciona-lo cuidadosamente sobre o prato da “Technics SL-1800”, meu antigo e agora obsoleto aparelho de som. Acionar o motor e acompanhar o giro quase hipnótico de 33 rotações por minuto para em seguida, de forma diligente com o polegar direito conduzir a agulha até a faixa musical desejada. Longe de ser um trabalho otimizado, ao contrário, todo esse rito dispendia um tempo maior, um gasto de energia física, uma experiência totalmente analógica e por fim um nível de atenção e valorização daquilo que estava por ouvir muito mais intenso do que um simples acionamento digital em um iPhone. Havia nessa vivência uma riqueza que transcendia a praticidade e o “ganho de tempo” das mídias digitais. É como se a relação com o vinil me devolvesse toda uma gama de sensações que a frieza binaria do computador havia subtraído.

E uma vez tendo relembrado e percorrido todo esse caminho neural durante esse ritual quase religioso me sentia como se

tivesse realmente “religado” algo em minha alma. Agora eu podia novamente experimentar uma sensação completa com a música. Mas eu não queria repetir o passado, eu tinha ali em minhas mãos os instrumentos e os meios para recriar imagens do que significava para mim a “música analógica” naquele momento. E foi isso que comecei a fazer: Durante várias noites joguei na tela imagens de toca-discos e álbuns de vinil. Mas havia um desejo diferente, uma vontade de brincar com as formas e cores… Comecei a me questionar: “Como será que Paul Klee, o pintor o poeta suíço, com seu humor seco e sua visão quase infantil representaria essas imagens?” Me permiti assim deformar e recriar minhas memórias afetivas com relação a música. Pude reinventar meus queridos discos e aparelhos de som… Agora eternizados em tinta acrílica e telas.

TOCA-FITAS – MIXTAPE

Naquele agora distante ano de 1985 os “Cassette players” ou “Toca-fitas” eram o nosso jeito de criar “Play Lists”, uma espécie de “Spotify pré-histórico”. Contudo, para além de um compilador de músicas eu via naquele equipamento um jeito de “desenhar sons”, um convite a criatividade. Em uma época em que os computadores pessoais eram ainda praticamente inacessíveis à maioria dos mortais (e mesmo se fossem, não iam muito além de

rudimentares processadores de texto) ter uma máquina que possibilitava gravar, regravar e inventar novos sons trazia algo de fascinante.

Lembro de ter feito muitos experimentos com gravações e o quanto isso era estimulante. Gravar, retroceder, tocar e ouvir, sobrepor áudios, tudo isso me parecia um exercício para

associação de novas ideias, possibilidades infinitas. Logo que iniciei minhas apresentações ao vivo, em 2010, esse foi um dos temas muitas vezes repetido. Pintar quadros com fitas, assim como os discos de vinil, era o meu novo fetiche, quase um TOC (Transtorno obsessivo compulsivo) durante as noites nas baladas.

POKER
As “naturezas mortas” com a temática da “Happy Hour” haviam se tornado um constante em minhas apresentações ao vivo. Passei a explorar as múltiplas possibilidades de combinações num mesmo cenário: Mesas com litros de vodca e uísque, taças de vinho, luz e sombra, dia e noite… Enfim, todas as situações que estava ao alcance de minha visão durante as noites nos bares que eu transformara em ateliê de pintura.

Em um segundo momento passei a unir a imagem dos álbuns de vinil e toca-discos à essa série de quadros e em alguma noite dessa que não consigo lembrar exatamente qual, joguei uma carta de baralho sobre o tampo de uma daquelas mesas de perspectiva disforme. Propositalmente disforme, talvez uma alusão inconsciente aos trabalhos de Paul Cézanne, o pai do Expressionismo, “O pai de todos nós” como bem observou Pablo Picasso.

Não me lembro de quando as cartas de baralho se uniram a série “Happy Hour”, mas lembro bem de onde veio a inspiração: Em novembro de 2012 eu estava no “Didge Pub”, um pequeno

“Território Australiano” fincado na Barra Sul de Balneário Camboriú. Naquela noite de sábado eu pintaria uma sequência de 4 Ases, por sugestão de um cliente. O cliente no caso era um campeão mundial de Poker: @thedecano. A partir daquela noite lembro de ter ficado bem impressionado com esse universo do “Esporte da mente” e como esse tema se encaixava perfeitamente às imagens enigmáticas do surrealismo. Existe algo de metafísico numa partida de Poker, um jogo onde a subjetividade se sobrepõe ao mundo real… Como num quadro de “De Chirico”, há uma forte tensão no ar e um clima de suspense… Perfeito para o que eu buscava expressar.

HAPPY HOUR “Um litro de noite ao final do dia”

“Um litro de noite ao final do dia”: Acho que eu estava pensando em Pablo Neruda quando dei esse nome ao quadro que mostra uma mesa a beira mar com uma garrafa totalmente escura

exceto pela silhueta de uma lua crescente em sua estampa. Neruda, o surrealista das palavras.

Para essa série de quadros sobre o fim do dia ou “Happy hour” eu imaginava algo como um encontro entre Neruda e Salvador Dali. O poeta pela sua já citada narrativa fantástica e Dali por me remeter aquele belo cenário de praia: Port Ligat em Cadaqués, pequeno município Espanhol onde o pintor viveu por muitos anos. A pequena enseada de Port Ligat foi o plano de fundo de muitas de suas obras, incluindo “A persistência da memória” o célebre quadro dos relógios derretidos.

Em novembro de 2011 me lembro de estar em um evento realizado durante o dia numa pequena ilha: A “Ilha de Porto Belo” em Santa Catarina, um local belíssimo onde só se chega

fazendo uma travessia de barco. Enquanto pintava pude contemplar a praia bem a minha frente ao som relaxante de uma banda de Jazz que se apresentava ao vivo. Esse é o primeiro

registro em minha memória quando penso em um cenário para a temática do “Happy Hour”.

É também uma fase marcada por muitas “Naturezas mortas”, onde o tema central era invariavelmente uma mesa vazia com copos e garrafas. Mesas ao sol com sombras impossíveis e uma perspectiva distorcida. Uma ausência de vida que leva o observador a cogitar e criar suas próprias suposições sobre alguma possível mensagem oculta…