A fascinante história de Stanford

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A história começa em 1876, quando Leland Stanford comprou 650 hectares de terra na região hoje conhecida como Palo Alto, e para lá se mudou com a esposa Jane e o filho Leland Junior. Leland Stanford morava em Nova York, onde se formara em Direito, e se mudou para a Califórnia, como muitos outros cidadãos dos Estados Unidos, após a “corrida do ouro”.

O jovem advogado enriqueceu com as ferrovias e se tornou um cidadão tão influente que, entrando para o partido Republicano, foi governador da Califórnia e senador por este mesmo estado. Os 650 hectares de terra adquiridos acabaram por se transformar em mais de oito mil hectares, e o que seria uma casa no campo, se transformou em um grande rancho conhecido como San Francisquito.

O filho, Leland Stanford Junior, nasceu em berço esplêndido, em 14 de maio de 1868, em Sacramento, na Califórnia. Filho único, o menino sempre teve de tudo, menos a presença do pai, sempre envolvido com os negócios e com as empresas. O garoto teve os melhores professores particulares, todo tipo de brinquedo, as melhores roupas e até uma coleção de objetos de arte.

Conforme a estação do ano, passava seus dias em uma das magníficas residências da família, em Washington, Boston, Denver, San Francisco ou até mesmo na Europa, para onde viajava todo verão.
Mas o lado duro e cruel do destino atingiu a família em uma dessas viagens. Num cruzeiro pela Europa com a mãe, que incluiu visita às pirâmides do Egito, o menino adoeceu acometido com a febre tifóide.

Levado às pressas para Verona, na Itália, a mãe fez de tudo para salvar o filho, mas em vão, já que depois de um breve período de internação, ainda que assistido pelos melhores médicos vindos de Roma, veio a falecer a poucos dias de completar 16 anos, em 13 de março de 1884. O navio retornou e Jane nunca mais pode contemplar o semblante do seu único filho.

A tragédia que ensejou a morte prematura do menino acabou por escrever uma das mais lindas páginas da história das universidades americanas. Devastados pela dor, seus pais nunca mais se recuperaram da tragédia. E decidiram que “as crianças da Califórnia seriam agora as suas crianças”.

Jane, então dama da alta sociedade que costumava desfilar em sua carruagem de luxo pelas ruas de São Francisco, sob olhares de admiração e inveja, passou a dedicar-se na construção de orfanatos e outras obras de assistência para a comunidade carente de São Francisco. Sete anos após a morte do filho e querendo manter viva a sua memória, Leland e Jane Stanford inauguraram, em 8 de outubro de 1891, no Vale do Silício, na Califórnia, a Leland Stanford Junior University. Hoje, a Stanford University é uma das cinco maiores dos EUA e uma das mais renomadas do mundo.

A universidade surgiu depois de seis anos de muito planejamento e pesquisa. Alguns, à época, chegaram a prever que seria uma grande e luxuosa universidade, mas com professores falando para as paredes. Só para citar um dos muitos cuidados do casal Stanford com sua escola, o arquiteto que projetou a estrutura da instituição foi o mesmo que criara o Central Park de Nova York, Frederick Law Olmsted. Apesar das previsões nada favoráveis, a Universidade de Stanford iniciou suas atividades com mais de 550 alunos.

A universidade inovou desde o em seu nascimento, sendo a pioneira em ter o corpo de alunos formado por rapazes e moças(estamos falando do final do século XIX), e a primeira a não ter qualquer vinculação com organização religiosa. Também, por decisão da co-fundadora, Jane Stanford, desde 1897 os estudantes passaram a residir próximo do local de estudo, tendo a escola desenvolvido desde aquela épica um amplo e completo sistema de residência estudantil, que beneficia atualmente cerca de 100 mil estudantes distribuídos em 800 residências.

Leland Stanford morreu em 1893 deixando sua mulher, Jane, no comando da instituição. Após terminar o inventário dos bens da família, em 1898, a senhora Stanford vendeu a participação do casal nas ferrovias e injetou parte do dinheiro recebido, mais de 11 milhões de dólares, na instituição de ensino. Em 1905, depois de renunciar à direção da universidade, Jane Stanford morreu tendo cumprido a sua missão e realizado o sonho de perpetuar para a prosperidade o nome do seu filho.

A universidade ainda passou por um grande susto em 1906, quando um terremoto destruiu muitos prédios e matou duas pessoas. Mas a força do empreendedorismo já estava no DNA da instituição, incrustada nas paredes de tijolos vermelhos. Por isso, não é de se espantar quando, em 1939, os alunos David Packard e Willian Hewlett, apoiados pelo professor e mentor Frederick Terman, fundaram uma pequena empresa de produtos eletrônicos, a hoje mundialmente conhecida HP. Neste momento, de certa forma, nasceu também o que hoje conhecemos como o Vale do Silício. A partir de então a união entre empreendedorismo e inovação lançou, definitivamente, o nome da Universidade de Stanford no hall da evolução das empresas de tecnologia.

Conhecida mundialmente como a universidade dos empreendedores e ícone do Vale do Silício, ex-alunos e professores fundaram grandes empresas, além da HP, a Google, Yahoo e Nike, dentre outras. Precisa mais?

Assim como ocorre com as outras universidades norte-americanas de grande prestígio, Stanford caracteriza-se por ser bastante seletiva na hora de aceitar alunos. Isso quer dizer que, dos 19 mil estudantes que se inscrevem anualmente, somente 12,7% são admitidos, dos quais, apenas 5%, ou seja, 120 são estrangeiros.

Professores e ex-alunos já ganharam 29 prêmios Nobel, dentre eles Paul Berg, responsável pela criação dos primeiros métodos de mapeamento de estruturas de DNA, e Martin Perl, físico que provou a existência dos neutrinos. Atualmente 19 vencedores da premiação dão aulas na universidade. Isso, sem falar nos outros 19 professores que receberam o prêmio Turing, considerado o Nobel da computação. De dar inveja, não é mesmo?

Leland Stanford Junior, não poderia ser melhor eternizado aos olhos do mundo pelos seus pais e, estes seguramente souberam, como poucos, transformar a dor num legado de caráter filantrópico e social inimaginável e impensável no mundo de hoje. A dor da perda, nunca se revelou tão transformadora como a história da família Stanford.